Título: Além do Fato: Muito barulho por nada
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/03/2005, País, p. A4

A reforma ministerial que acabou de ser concluída despertou em alguns grandes expectativas, mas foi pífia em transformações. Voltou ao PT o que era do PT. Guido Mantega, petista de carteirinha, era, antes de sua nomeação para presidente do BNDES, ministro do Planejamento. Esse cargo voltou a ser ocupado pelo Partido dos Trabalhadores, desta vez pelo deputado federal Paulo Bernardo (PR). Continua com o PMDB o que era do PMDB. Saiu o senador Amir Lando (RO) da Previdência, mas em seu lugar entrou o senador Romero Jucá (RR).

Quem sonhava com maiores espaços no atual governo, perdeu tempo e gastou verbo inutilmente. Foi o caso do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que infligiu desnecessário desgaste ao Legislativo.

O sentido mais profundo da reforma é um só: estão satisfeitos os setores fortes que dão base ao governo. Não se mexerá na política de juros, e assim, pode, mais uma vez, respirar aliviado o sistema financeiro. Estão satisfeitos os supervisores do FMI: continuará alto o nosso superávit primário. Mais do que isso, estão confortados novamente os investidores do mercado de ações. O risco Brasil deverá cair mais alguns pontos: nossa política econômica é uma política de combate à inflação e, dentro do possível, de controle orçamentário.

Ficará a ver navios, por outro lado, o setor produtivo, obrigado como sempre a produzir com juros na estratosfera. Continuar-se-á a conviver com o desemprego; permanecerá a classe média apertando o cinto e os pequenos e médios empresários, ao que tudo indica, não verão a luz do final túnel.

*Coordenador da Pós-Graduação em Ciência Política e do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFF