Correio Braziliense, n. 21222, 02/07/2021. Política, p. 3

Voto impresso: Bolsonaro critica STF
Ingrid Soares
02/07/2021



Pressionado pelas investigações da CPI da Covid e pela liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pesquisas de intenção de voto para 2022, o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e na defesa do voto impresso. Sem citar nomes, o chefe do Executivo relatou que três dos magistrados da Corte têm se articulado contra a aprovação da proposta. As declarações foram dadas a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. O mandatário ainda repetiu que, se a medida não for implementada no próximo ano, “vamos ter problemas”.

“Tem uma articulação de três ministros do Supremo para não ter o voto auditável. Se não tiver, eles vão ter de apresentar uma maneira de termos eleições limpas. Se não tiver, vamos ter problemas no ano que vem. Eu estou me antecipando a problemas no ano que vem”, alegou.

Sem apresentar provas, Bolsonaro voltou a acusar fraude nas urnas em 2018 — insiste que teria vencido no primeiro turno do pleito. “(Com) O voto auditável, vai ter a certeza de quem o povo votar vai ser eleito. Como está aí, a fraude está escancarada e não vai ser só para presidente, não, vai ser para governador, senador, fraude. Então, tem três do Supremo articulando para não ter o voto impresso, porque eles estão preocupados com a judicialização. Eu já falei: se promulgar, vai ter voto impresso”, disparou. “Agora, se essa articulação prosperar, esses três vão ter de inventar uma outra maneira de termos eleições confiáveis, com contagem pública de votos. Estou antecipando porque a minha, que estou falando aqui, é a expressão da democracia, a transparência.”

De acordo com o presidente, as alegações de que a implementação da medida custaria bilhões aos cofres públicos não são válidas. “Não adianta vir com argumentozinho de que é muito caro. Dinheiro tem. Já está arranjado o dinheiro para comprar as impressoras”, enfatizou. “Então, nós queremos eleições limpas no ano que vem, porque tiraram o Lula da cadeia, tornaram ele elegível para ser presidente na fraude. Isso não vai acontecer.”

O projeto, caso aprovado, prevê a instalação de impressoras nas urnas eletrônicas. No entanto, a pressão contra a medida é grande. No último dia 26, líderes de 11 partidos decidiram que não vão apoiar a mudança da forma de votação. Eles defendem que o sistema eleitoral é confiável, que a urna eletrônica nunca teve fraude comprovada em 25 anos e que mudar as regras do jogo poderia gerar incertezas no processo, como a judicialização das eleições.

Ontem, Bolsonaro assistiu a uma missa na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte. A visita à igreja não constava na agenda oficial do mandatário. Acompanharam a cerimônia eucarística, entre outros, a deputada Bia Kicis (PSL-DF), autora da PEC do Voto Impresso e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.