Título: A dolorosa reprise de Columbine
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/03/2005, Internacional, p. A9

Massacre que deixou 10 mortos e 13 feridos foi causado por jovem que admirava Hitler

RED LAKE - Os Estados Unidos amanheceram ontem sob o impacto de uma nova tragédia como a da escola de Columbine, Ohio, em 1999. Tal qual naquela ocasião, desta vez um adolescente problemático invadiu uma escola na reserva indígena dos Chippewas em Red Lake, a 120 km da fronteira com o Canadá, armado, matou nove pessoas e feriu 13 antes de dar um tiro na própria cabeça.

Jeff Weise, de 16 anos, não admirava um filme como os dois assassinos de Columbine, Eric Harris e Dylan Klebold, da mesma idade, que imitavam os personagens de Matrix . Seus ídolos eram Adolf Hitler e o esquisito roqueiro Marilyn Manson - cujo nome é uma macabra homenagem a Marilyn Monroe e a Charles Manson, este o líder da seita satânica que, em 1968, trucidou oito pessoas em Los Angeles, entre elas Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski, grávida de oito meses.

Antes de invadir a escola Red Lake Senior High School atirando, trocar tiros com a polícia e se matar, Jeff havia assassinado os avós com quem vivia - o pai se suicidou há quatro anos e a mãe mora em um asilo, internada com problemas mentais causados por um acidente de carro. Solitário, era um aluno problemático, hostilizado pelos colegas e por isso passou a ter aulas em casa. Em uma página na internet, fez sua profissão de fé nos ideais de pureza racial pregados pelo movimento neonazista.

As revelações deixaram ainda mais chocados os chippewas, cujo líder, Floyd Jourdain, disse que a comunidade ficou envergonhada.

- Sem dúvida nenhuma, esta segunda-feira foi o dia mais sombrio da nossa história - afirmou Floyd.

- É uma terrível tragédia - disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. - Nossos pensamentos e orações estão com as famílias dos que foram mortos. É difícil para cada um entender de verdade como estas coisas podem acontecer - destacou.

No tiroteio, o rapaz atacou o avô um guarda da reserva de quem levou a arma - e a avó. Depois apoderou-se de duas pistolas, vestiu um colete à prova de bala e usou a viatura policial para seguir até a escola. Lá, invadiu as salas espalhando o terror ao atirar indiscriminadamente. Encurralado em um escritório, deu um tiro na própria cabeça. Os mortos são alunos, um guarda e uma professora.

- Uma amiga gritou para que parasse, que não atirasse nas pessoas, mas ele não ouviu. Depois vieram muitos tiros - descreveu uma aluna, que sobreviveu com ferimentos leves. Outra, Sondra Hegstrom, acompanhou tudo de uma sala ao lado.

- Ouvi outra garota dizer: 'Não Jeff. Vá, Vá! Me deixe... por que faz isso?' Bum, bum, bum, e as súplicas pararam - afirmou. Um jornal local, citando outro sobrevivente, informou que Jeff apontou para um colega, depois mudou de idéia, sorriu, balançou a arma e acabou matando outro.

- Ele ria como um louco, e perguntou a uma menina agitando as pistolas se ela acreditava em Deus, depois atirou, mas não acertou - descreveu.

A reserva dos chippewas é a mais carente e sem perspectivas do Minnesota. Mais de 40% de seus 5 mil habitantes estão desempregados. O incidente realça a situação dos jovens em reservas indígenas, onde são registradas altas taxas de suicídio, de abuso no consumo de substâncias químicas, de evasão escolar, de pobreza e de famílias desfeitas.

- Não há qualquer dúvida, a causa desse ato de violência é a pobreza - disse o médico Darrell Seki, diretor do hospital de Bemidji, onde as vítimas foram socorridas.