Título: Morte sem sofrimento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/03/2005, Internacional, p. A10

Manifestantes temem que a remoção, na sexta-feira, do tubo usado para alimentar a americana Terri Schiavo faça com que ela tenha uma morte lenta e dolorosa. No entanto, especialistas afirmaram ontem que as evidências mostram que os pacientes que morrem desta maneira não agonizam.

De acordo com os médicos, no caso específico de Terri, não resta funcionamento cerebral suficiente que lhe permita se inteirar do processo.

A mulher está no que a maioria dos neurologistas concordam ser um estado vegetativo permanente desde que seu coração parou, em 1990, impedindo que seu cérebro fosse oxigenado.

O médico Lawrence Schneiderman, da Universidade da Califórnia em San Diego, que também estuda questões éticas e opinou várias vezes no caso, disse que o cérebro da mulher ficou tão danificado que não há qualquer chance de ela algum dia retomar a consciência. Nestes pacientes, segundo ele, o córtex cerebral foi destruído.

- Quando você escaneia pode ver que na verdade não está lá - explicou. - Tudo o que sabemos sobre neurologia diz que ela não tem a parte do cérebro que a capacita estar consciente.

O médico Joseph Fins, diretor de ética do Hospital Presbiteriano de Nova York, destacou que pacientes em estado vegetativo, ainda que abram os olhos e se movam por reflexo, não podem sentir desconfortos, tais como fome ou sede.

- Os mecanismos corticais que dariam a uma pessoa consciência do que ocorre externa e internamente não estão funcionando - disse Fins.

Mesmo aqueles que padecem conscientes de doenças terminais e escolhem morrer com a remoção dos tubos parecem sofrer pouco ou mesmo nada, segundo um estudo realizado em julho do ano passado nos EUA.

Linda Ganzini, diretora do Programa de Tratamento Paliativo do Centro Médico para Veteranos, em Oregon, explica que estas pessoas parecem morrer pelo menos tão em paz quanto aqueles que morrem com a ajuda dos médicos. O estudo foi publicado no jornal de Medicina da Nova Inglaterra.