Título: Juiz federal rejeita religar tubo
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/03/2005, Internacional, p. A10

Pais de Terri, que teve a sonda retirada na última sexta-feira, recorrem da sentença na Corte de Apelação

AFP Manifestantes rezam diante da casa de repouso onde Terri está internada. Uma mulher ameaçou levar água para que bebesse e foi detida

TAMPA, EUA - Apesar do esforço de parlamentares republicanos e do próprio presidente George Bush, o juiz federal James Whittemore negou ontem de manhã o pedido para que fosse reconectado o tubo que alimentava a americana Terri Schiavo, removido na sexta-feira. Os pais da paciente entraram com um recurso na Corte de Apelações ontem mesmo.

O Congresso, de maioria republicana, aprovou no fim de semana, em votações extraordinárias, uma lei que transferiu o caso para a jurisdição federal, projeto que foi promulgado ainda na madrugada de domingo, pelo presidente George Bush. Na sexta-feira, a retirada do tubo foi determinada por um juiz do estado da Flórida.

- O governo teria preferido uma decisão diferente - admitiu o porta-voz Scott McClellan, acrescentando que a Casa Branca espera que os pais de Terri, Bob e Mary Schindler, encontrem alívio na corte de apelações. - Continuamos do lado dos que defendem a vida.

O líder da maioria republicana no Senado, Bill Frist, também se mostrou insatisfeito com a sentença:

- Hoje [ontem]é um dia triste para todos os americanos que valorizam a santidade da vida - declarou.

Ao emitir a sentença, Whittemore alegou que os Schindler - que disputam na Justiça há sete anos com o marido e guardião legal da paciente, Michael Schiavo, para mantê-la viva - não tinham ''probabilidade substancial de obter sucesso no mérito de seus argumentos''.

''Este tribunal concluiu que a vida e os interesses de Theresa Schiavo foram protegidos pelos procedimentos judiciais levados a cabo pela Justiça do estado da Flórida'', escreveu o juiz federal em seu ditame, acrescentando reconhecer a gravidade das consequências da decisão.

O porta-voz dos pais, Gary McCullough, considerou a decisão ''extremamente cruel''.

- Aqui está uma mulher cuja vida está em suspenso. Ela está vagarosamente morrendo de inanição - disse.

O irmão da paciente, Bobby Schindler, contou que a família ficou desolada com a sentença de ontem.

- Ter que ver meus pais passarem por isso é absolutamente barbárico - frisou.

Já o irmão de Michael, Scott Schiavo, opinou que a decisão foi boa para Terri e que o Congresso não deveria ter interferido.

O marido da paciente alega que ela teria dito antes do ataque cardíaco, que a deixou em estado vegetativo - causado por uma súbita baixa de potássio no organismo -, que não gostaria de ser mantida viva com a ajuda de aparelhos. Terri, de 41 anos, está há 15 em coma. Pessoas nessas condições não são capazes de pensar, falar ou responder a estímulos ou comandos, nem se dão conta do que acontece a sua volta.

- Isto é algo que acontece 100 vezes por dia em nosso país. O desejo das pessoas de morrer com dignidade não é assunto federal - afirmou Scott.

Sem água ou alimentos, médicos prevêem que a mulher viverá por um período de sete a 15 dias. No entanto, os pais negam que a filha esteja em ''estado vegetativo persistente'' - como constatou a corte da Flórida - e afirmam que ela pode recuperar-se com tratamento. Mas várias sentenças anteriores do Tribunal Supremo são poucos inclinadas à causa dos país de Terri.

Em 1990, o caso Cruzan estabeleceu que uma pessoa em estado vegetativo permanente tem o direito constitucional de ser desligada do tubo de alimentação. Em 1995 e 1997, outras duas decisões tomadas pelo máximo tribunal dos EUA seguem a mesma linha.

Apesar do revés, os manifestos a favor da reconexão do tubo de alimentação continuaram. Conservadores, religiosos e contrários ao aborto se reuniram diante do local onde a mulher está internada. Uma ativista chegou até a ser detida quando, em forma protesto, tentou entrar no prédio com uma garrafa de água na mão. A polícia reforçou o dispositivo de segurança no lugar, que teve todos os acessos fechados.