Valor Econômico, n. 5237, 28/04/2021. Política, p. A11

 

A fãs de Bolsonaro, ministro diz que PIB caiu ‘só 4,1%’

Carolina Freitas

28/04/2021

 

 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, levou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, para uma interação com fãs, na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília. Chamado de “PG” e de “Posto Ipiranga” por Bolsonaro, o ministro tentou explicar ao grupo que a economia brasileira está em situação melhor do que a de países como Alemanha e Japão.

A participação de Guedes na parada diante dos apoiadores aconteceu no mesmo dia em que o ministro da Economia teve de ceder a pressões e fazer mudanças em sua equipe, em uma tentativa de impedir que a pasta seja desmembrada para acomodar indicados do Centrão.

Ainda assim, Bolsonaro usou a oportunidade para dizer aos fãs, em meio a gritos de apoio, que escolheu seus ministros com liberdade, sem loteamento de cargos. “Se Paulo Guedes fosse indicação política, como estaria a economia do Brasil com uma pandemia dessas? Fomos um dos países que menos decresceu”, afirmou.

Guedes então tirou a máscara de proteção facial, a exemplo do presidente, e tomou a palavra. “Os países mais avançados tiveram queda de PIB bem maior que o Brasil. A Inglaterra caiu 9%; a Itália, 8%; a França, 7%; a Alemanha, 5%; o Japão caiu 4,5%. Nós caímos só 4,1%”, disse o ministro. “Além de ter caído menos do que vários países avançados, nós c

Bolsonaro apresentou Paulo Guedes aos fãs como “o homem do dinheiro”. Sorridente, o ministro posou para fotos com apoiadores ao lado do presidente.

Antes da parada em frente ao Alvorada, Bolsonaro e Guedes participaram de reunião com ministros do Tribunal de Contas da União (TCU). “Um ministro disse que, no passado, quando tinha reunião parecida, era pra tratar de corrupção. Nós aqui, depois de 2 anos e 4 meses, zero corrupção no meu governo”, disse o presidente.

Bolsonaro aproveitou a claque para xingar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “As pessoas tiveram 14 anos de PT no Brasil. Um dos maiores bandidos da história do Brasil vem querer vir como salvador da pátria e querer falar de fome”, disse.

O presidente abordou ainda o que chamou de “sexualização da escola”. Para Bolsonaro, iniciativas para educação sexual de crianças e adolescente são parte de um projeto da esquerda para impor uma “ideologia de gênero” aos estudantes. O presidente culpou o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), que o enfrentou nas urnas em 2018, por esse suposto fenômeno.

“A escola pública perdeu muito com a doutrinação, de um tal de Paulo Freire. Não é fácil redirecionar a educação no Brasil. É uma geração que perde”, disse Bolsonaro. “Vocês não veem mais aquela sexualização da escola. Praticamente zerou no nosso governo. Ninguém quer o filho de 6 anos envolvido com sexo. Agora a esquerdalha que tava aqui... Haddad deixou barbarodades pra nós"

Bolsonaro falou ainda que “a gente infelizmente tem que conviver” com as mortes causadas pela pandemia. “Não vai embora mais não. A medida não é ficar em casa o tempo todo. Isso destrói empregos”, afirmou. “Quem fechou comércio não fui eu. Jamais usarei qualquer força que o Estado tem para manter o povo em casa.”

O presidente opõe-se, desde a chegada da doença no Brasil, às medidas de isolamento social para conter a propagação do vírus. O Brasil soma, desde março de 2020, 392 mil mortes em decorrência da covid-19 e tem hoje só 8,2% da população imunizada com as duas doses da vacina.