Correio Braziliense, n. 21229, 09/07/2021. Política, p. 4

Bolsonaro ameaça votação de 2022
Ingrid Soares
09/07/2021



Sob pressão da CPI da Covid e em queda na popularidade, presidente diz que "ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições". Ele volta a defender o voto impresso

O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar sobre a possibilidade de fraude nas eleições do próximo ano e colocou em dúvida, mais uma vez, a realização do pleito. O mandatário defendeu a aprovação do voto impresso, afirmando que, caso a medida não seja instituída em 2022, não haverá votação. "As eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", disparou, a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.

Na quarta-feira, Bolsonaro disse, sem apresentar provas, que Aécio Neves ganhou a disputa à Presidência da República contra Dilma Rousseff, em 2014. Afirmou, ainda, que algum lado pode não aceitar o resultado das urnas em 2022. "Eles vão arranjar problemas para o ano que vem. Se este método continuar aí, sem, inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas, porque algum lado pode não aceitar o resultado. Esse algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado", destacou, na ocasião.

Em transmissão ao vivo nas redes sociais, há uma semana, Bolsonaro disse que, se for derrotado nas eleições de 2022, só entregará a faixa presidencial se o seu adversário tiver vencido de "forma limpa". Dias depois, acusou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de fazer articulações no Congresso contra a aprovação da emenda que permite o voto impresso — chamado por ele de "voto auditável". "Não podem botar em votação (agora) porque vão perder, por causa da interferência do ministro Barroso. Um péssimo ministro", criticou.

"A democracia está ameaçada por alguns de toga, que perderam a noção de até onde vão seus direitos, seus deveres", disse o presidente, em entrevista à Rádio Guaíba. A Secretaria de Comunicação do TSE informou que Barroso está em um compromisso acadêmico fora do Brasil "e pediu para não ser incomodado com mentiras e miudezas".

Bolsonaro tem dito, também, que, se o voto impresso não for aprovado, pode haver uma "convulsão social" no Brasil porque "no tapetão não vão levar". Na prática, ele criou um discurso preventivo para justificar uma eventual derrota nas urnas.

A escalada de críticas e acusações de Bolsonaro à urna eletrônica, sem apresentar provas, ocorre num momento de queda de popularidade e desgaste do governo diante das denúncias de corrupção na CPI da Covid. Além disso, manifestações de rua estão mais frequentes. No sábado passado, houve protestos em todas as capitais e novos atos estão sendo convocados. O MBL e o Vem Pra Rua, dois dos grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, marcaram protesto para 12 de setembro.

Além disso, dois institutos diferentes apontaram, ontem, que o índice de reprovação de Bolsonaro é o maior desde a posse, além da diminuição de sua aprovação. Pesquisa XP/Ipesp também indicou que 52% dos entrevistados consideram a administração como ruim ou péssima. Em outubro, eram 31%. Os que classificam o governo como bom ou ótimo caíram de 39% a 25%.

Segundo o DataFolha, 51% avaliam o governo como ruim ou péssimo, seis pontos porcentuais a mais do que o último levantamento, em maio. Aqueles que veem a gestão como regular somam 24% da população, seis pontos a menos do que há dois meses. Já os que avaliam como bom ou ótimo são 24%, índice estável desde o levantamento passado.