Valor Econômico, n. 5237, 28/04/2021. Política, p. A12

 

“Quem aparecer agora será queimado”, diz Temer

Carolina Freitas

28/04/2021

 

 

Ex-presidente criticou atuação de Jair Bolsonaro no combate à pandemia

O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou ontem apostar em um nome “que caminhe pelo meio” para as eleições presidenciais de 2022. A expressão foi uma referência a uma candidatura que não esteja nem no polo do presidente Jair Bolsonaro nem no do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para Temer, o que existe agora no cenário são “duas radicalizações”.

“Acho que vai aparecer alguém que caminhe pelo meio, mas não será agora. Quem aparecer agora será queimado. Em fevereiro, março de 2022 deve se começar a definir candidaturas", avaliou Temer em fala a presidentes de grandes empresas de varejo, no evento on-line “Quando os presidentes se encontram”.

Questionado pelos empresários, o ex-presidente disse que não cogita se candidatar e recomendou que não se antecipe o debate sobre as eleições porque a prioridade agora é combater a pandemia e recuperar a economia.

Durante o evento, promovido pela Gouvêa Ecosystem, Temer disse que Bolsonaro seria hoje considerado um "herói nacional" se tivesse, desde a chegada da pandemia no Brasil, assumido a coordenação do combate à doença e reconhecido a gravidade da covid-19.

O ex-presidente criticou Bolsonaro ainda pela falta de diálogo com o Congresso e por "radicalizar" o ambiente político. Para o ex-presidente, hoje, o governo não tem um plano para o país.

"Se o presidente da República tivesse assumido no primeiro momento o combate à pandemia e centralizado essa atividade, levando em conta a gravidade da pandemia, ele se transformaria hoje num herói nacional e um símbolo para toda a América Latina. Mas isso não aconteceu”, disse Temer.

O ex-presidente destacou a importância da harmonia entre os Três Poderes e disse que o clima hoje no país é de "divergência no grau máximo". "Temos mania de achar que o presidente pode tudo. E ele não pode. Se o presidente não tiver o apoio do Congresso Nacional, ele não governa. Quem governa o país é Executivo e Legislativo juntos e, se houver divergência, tem o órgão julgador, o Judiciário", disse Temer.

Para o ex-presidente, atualmente no Brasil “a regra deveria ser: unidos e vacinados”.