Título: Chagas: Exército entra em ação
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/03/2005, País, p. A6

Folhapress

SÃO PAULO - O Exército disponibilizou ontem seis barracas, com cinco leitos cada uma, aos hospitais de Joinville (SC), onde foram confirmados cinco casos de contaminação por Mal de Chagas pela ingestão de caldo de cana. A estrutura foi montada em frente ao hospital regional.

Segundo o tenente-coronel Agenor Paulino Junior, os equipamentos foram requisitados pelos hospitais devido ao aumento do número de pessoas desejando fazer o exame de detecção da doença. Para auxiliar no atendimento, o Exército cedeu enfermeiros, que fizeram exames de rotina e ajudaram na triagem de pacientes que apresentaram sintomas como febre, mal-estar, dor de cabeça e nas articulações, inchaço dos olhos e alterações cardíacas.

Só no hospital São José, 14 pessoas que ingeriram o caldo de cana estão internadas. Um turista boliviano que estava na cidade morreu com os sintomas da doença. A vigilância municipal confirmou o caso.

O Ministério da Saúde alertou a Argentina, o Uruguai e o Paraguai sobre o risco de turistas desses países em Santa Catarina terem contraído a doença de Chagas depois de beberem caldo de cana contaminado.

No último domingo, o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis, Eduardo Hage, enviou o primeiro comunicado aos três parceiros do Mercosul. Na terça-feira, fez novo alerta.

A preocupação do governo brasileiro se deve ao fato de Santa Catarina receber tradicionalmente grande número de turistas desses países durante o verão.

O primeiro aviso foi mandado logo após a confirmação dos primeiros casos. Um deles é o do padre Vilmar Roecker, 38 anos. Ele está internado há três semanas em Brasília, mas só teve a doença diagnosticada no último sábado. Antes, os médicos cogitaram leptospirose e hantavirose.

Roecker tomou caldo de cana em um quiosque na BR-101 perto de Itajaí (SC), em 13 de fevereiro. A irmã dele, o cunhado e um empregado dela também tomaram a bebida e adoeceram. Os primeiros sintomas dos quatro - fraqueza, mal-estar e febre - surgiram no mesmo dia, quase duas semanas depois.

Ele diz que as condições de higiene do quiosque eram excelentes.

- Estou convencido de que a cana foi lavada antes, e eu a vi sendo moída. O lugar era limpo.

O ministério trabalha com duas hipóteses de contaminação: a presença de urina de roedor infectado pelo barbeiro, transmissor da doença de Chagas, ou de resíduos do próprio inseto, que seria moído com a cana. O órgão informou que é rara a transmissão da doença por ingestão de alimentos.