Título: Entroncamento estratégico para chegar à China
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/03/2005, Internacional, p. A7
O Quirguistão não tem petróleo e não há em seu território oleodutos como na Geórgia. Suas vantagens são a localização estratégica - passagem para a China e o Afeganistão - e as reservas de água potável. Um dos maiores problemas dessa ex-república soviética de 5 milhões de habitantes é o tráfico de drogas e o extremismo islâmico, principalmente no Sul. De maioria muçulmana, abriga na região uma minoria uzbeque que já havia entrado em conflito em 1990.
Tão logo a queda do regime se confirmou, o embaixador dos EUA no país, Stephen Young, exortou que houvesse uma ''transição pacífica'', em alusão aos relatos de saques e episódios violentos que se multiplicavam. Os americanos têm uma base militar com 2 mil homens em Menas, perto de Bishkek.
- Falamos com companheiros que trabalham para intervir e desempenhar um papel de estabilização - frisou Young. - O que acontece concerne ao povo quirguiz, assim como as futuras decisões. Os EUA se orgulham de apoiar isso - completou, sendo endossado pelo Departamento de Estado. O embaixador destacou que a Rússia é um fator importante no cenário.
- Estou seguro de que tanto em Washington como em Moscou se vai trabalhar estreitamente com os russos - continuou. - Temos interesses comuns em um Quirguistão estável e forte, como uma barreira ao terror e às drogas.
Já o representante do governo deposto nos EUA, Baktybek Abdrissaev, garantiu que Akayev ''não renunciou''.
- Ainda sigo as orientações dele - disse, em Washington.
Para os quirguizes, a saída de Akayev, que estava há 15 anos no poder - desde a desintegração da antiga União Soviética - é um alívio.
- Estou feliz por não ver mais aquela cara vergonhosamente sorrindo para nós. Não foi a oposição que o tirou do poder, mas o povo que foi seu escravo por quase duas décadas - dizia Abdikasim Kamalov, 35 anos, festejando no meio da rua. - Não podíamos tolerar mais. Queremos mudanças.
Em Moscou, a reação foi comedida. Em nota, o Kremlim manifestou sua preocupação que a crise fosse resolvida ''dentro da lei''. O presidente Vladimir Putin não comentou o caso e, segundo analistas, não o fará depois do que aconteceu na eleição ucraniana, quando tentou impedir que o candidato da oposição, Viktor Yuschenko, vencesse seu escolhido e acabou sofrendo uma amarga derrota política para o Ocidente.
A queda do regime igualmente não afeta as relações russo-americanas. As duas potências têm uma relação amigável quanto ao Quirguistão, tanto que Moscou igualmente possui uma base militar no país, em Kant.