Título: Peru acusa Chile por armas a Quito
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/03/2005, Internacional, p. A12
Armamento teria sido vendido em 1995 pelo governo de Santiago, durante conflito entre os dois países
LIMA - O governo do Peru tem ''sérios indícios'' de que o Chile realizou mais de uma venda de armas ao Equador durante a guerra peruano-equatoriana de 1995.
O jornal La República, de Lima, informou ontem que as ''evidências'' apontam que três aviões cargueiros Antonov chegaram a Santiago durante o conflito para buscar carga militar e voltaram ao Equador através do Brasil, onde teriam feito escala para reabastecer.
O mesmo diário indica ainda que o caso é investigado pela Inteligência peruana, após a denúncia feita segunda-feira pelo ex-chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas equatorianas, Víctor Bayas, atualmente foragido da Justiça.
Esta informação foi a que teria levado o governo do Peru a endurecer sua postura com o Chile e a suspender os acordos de confiança e cooperação militar entre ambos os países.
- Estes indícios preocupantes colocariam em risco a qualidade de fiador à qual Santiago tinha se comprometido [como observador do protocolo do Rio de Janeiro, assinado entre Peru e Equador]- afirmou o premier peruano, Carlos Ferrero.
O Chile, junto com Brasil, Argentina e EUA, é fiador desse documento, que fixou em 1942 os limites entre o Peru e o Equador. Além disso, foi fiador do processo peruano-equatoriano que terminou com a assinatura do acordo de paz definitivo em outubro de 1998, depois do conflito bélico de 1995.
O Peru chegou a ordenar a volta do chanceler Manuel Rodríguez Cuadros mas, segundo a imprensa local, retrocedeu e pediu que o Cuadros se reúna com seu homólogo chileno no Morrocos, onde está de visita. Lima também suspendeu visitas que autoridades fariam ao país. O vice-presidente peruano, David Waisman, disse ainda que deve pedir uma reparação econômica por danos e prejuízos.
Já o presidente chileno, Ricardo Lagos, afirmou ontem que tudo está calmo entre Santiago e Lima, reiterando que a munição só foi vendida ao Equador em 1994.
O Peru não considerou as explicações satisfatórias e exigiu dos chilenos uma investigação profunda do caso.
Já o comandante do Exército do Equador, Luis Aguas, garantiu que não existem arquivos que provem a denúncia de Bayas sobre a suposta compra de armas do Chile em 1995.
Segundo Bayas, durante o conflito, seu país adquiriu armas da Argentina, da Rússia e do Chile com o conhecimento da CIA. As operações teriam ocorrido mesmo com a proibição internacional em vigor naquele ano, que impedia a venda de armas aos dois países andinos que se enfrentavam por causa de uma controvérsia limítrofe em sua fronteira amazônica.
Contra Bayas pesa uma ordem de captura ditada pelo presidente da Suprema Corte, Guillermo Castro, que também decretou a prisão domiciliar do ex-ministro da Defesa, José Gallardo, pelo caso da compra de armas da Argentina.
Gallardo e Bayas estão envolvidos no caso da aquisição irregular do material bélico argentino em 1995, que acabou sendo obsoleto. Por isso, foram executadas as garantias contratuais e o país recuperou seu investimento de mais de US$ 7 milhões. O caso envolveu o ex-presidente argentino Carlos Menem e vários altos funcionários de seu governo.