Título: Cenário externo preocupa BC
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/03/2005, Economia & Negócios, p. A19
Preço do petróleo e economia americana são novos empecilhos ao fim dos aumentos da taxa de juros
Depois de sete meses consecutivos de aumento dos juros, o ciclo do aperto monetário pode não ter chegado ao fim. Ou, numa interpretação mais positiva da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o processo de redução da taxa básica (Selic) levaria mais tempo do que se previa inicialmente para começar.
A diretoria do BC dá a entender que, se dependesse somente dos fatores internos, a seqüência de elevação dos juros teria terminado neste mês, quando a Selic subiu 0,5 ponto percentual, para 19,25% ao ano. No entanto, destaca que a deterioração do cenário externo pode comprometer esse quadro benigno.
''O Comitê considera que os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros iniciado em setembro de 2004 já se fazem sentir [...]. A atividade econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação'', informa a ata.
Ou seja, não é mais necessário reprimir o crescimento de modo a impedir reajustes de preços que pudessem comprometer o cumprimento das metas de inflação. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a inflação entre os dias 15 de fevereiro e 15 de março, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), caiu à metade, de 0,74% nos 30 dias anteriores para 0,35% agora.
Mas, a tranqüilidade demonstrada na ata não mudou as expectativas dos analistas em relação à trajetória da taxa de juros. Em relatório divulgado ontem, a consultoria GRC Visão aposta que o BC terá que elevar novamente a taxa básica em abril, porém em 0,25 ponto percentual.
''Visto de hoje, o Copom sinaliza pela manutenção da taxa na reunião de abril, mas deverá ser surpreendido por uma deterioração acentuada do cenário internacional ao longo das próximas duas semanas, sendo obrigado a promover uma nova elevação da taxa'', diz o relatório.
O próprio BC cita novos elementos de preocupação no cenário internacional e os enumera: ''A existência de alguns focos localizados de pressão na inflação e a deterioração recente no cenário externo, com nova escalada nos preços do petróleo e maior incerteza acerca da condução da política monetária americana, aumentaram os riscos a que estão sujeitas as perspectivas de convergência da inflação para a trajetória de metas''.
A ata lembra que o preço do petróleo subiu ''de forma quase contínua''. Destaca ainda que os preços internacionais da gasolina voltaram a superar os valores cobrados no Brasil.
Mesmo assim, o BC manteve a expectativa de que não deverá haver reajustes dos combustíveis neste ano, uma vez que as razões para os aumentos estariam cercadas ''de um grau razoável de incerteza''.
Com Folhapress