Título: Chinaglia admite: governo enfrentará resistência na Casa
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 28/03/2005, País, p. A3

Líder do Planalto na Câmara reconhece dificuldades para aprovar MP 232

Arlindo Chinaglia (PT-SP) é o novo meio-de-campo de um time que acumula derrotas nos últimos tempos e joga desafinado. Anunciado na última terça-feira como líder do governo na Câmara, Chinaglia assumiu a árdua missão de recompor as pontes de diálogo entre o Executivo e o Legislativo, corroídas depois de um 2004 turbulento e de um início de 2005 marcado por titubeios. O primeiro desafio não aponta para o sucesso da missão: assegurar, amanhã, a improvável aprovação da MP 232.

- Quero trazer a posição do governo para a Casa e, ao mesmo tempo, levar as impressões dos deputados para o Planalto - delimitou-se o parlamentar.

Chinaglia sabe a importância da afinação com o Planalto. Reconhece que, se trabalhar isolado, acabará sufocado. As condições de trabalho, agora, não devem ser comparadas com a dos últimos dois anos, ressalta.

- A fase de alguém chegar aqui e dizer que a posição do governo é assim ou assado, sem contestação, passou - admite.

Para o novo líder, é fundamental reconstruir o diálogo com a Mesa Diretora, com os partidos da bancada governista e com a oposição. O petista afirma que, mais do que discutir os méritos da matérias, sua função primordial será definir os métodos de relação. Tais fórmulas envolvem não apenas o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), mas os demais integrantes do Executivo. E são todos poderosos.

- A presença política dos ministros é algo que devemos aprimorar. Não com um espírito de subordinação, mas de aprofundamento do diálogo - defende.

Chinaglia assume a função com uma prova de fogo: a votação da medida provisória 232. Esta será a primeira batalha do Planalto depois da minirreforma ministerial que alijou da Esplanada o PP, do presidente Severino Cavalcanti (PE, após meses de negociações. O cuidado é tanto que o líder petista defende um adiamento da votação, marcada para amanhã.

- Tivemos um feriado santo. Muitos viajaram e podem se atrasar a retornar. Não temos tempo para negociar. Vamos tentar ganhar algum tempo - sinaliza.

Uma nova derrota seria debitada mais uma vez na conta dos operadores políticos do governo, avaliam ministros. Mas, dessa vez, alcançaria maiores proporções, pois respingaria no próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro porque o presidente reconheceu durante a reunião ministerial os equívocos das costuras políticas para a reforma. Segundo porque, desde quarta-feira, Lula começou a interferir também na articulação política, dando início às conversas com líderes do partidos da bancada governista. O primeiro foi o PTB. Ou seja, na votação da MP 232 estará à prova o novo modelo de articulação política do governo: Lula operando em parceria com ministros e líderes na Câmara.

Por isso, os ministros estão sendo mobilizados no chamado esforço concentrado pela MP 232. A medida reajustou em 10% a tabela do Imposto de Renda, mas ficou negativamente conhecida por elevar a carga tributária das empresas prestadoras de serviço.

O novo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, por exemplo, homem de confiança do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi escalado para dourar a pílula. Dessa forma, tornaria a medida mais aceitável para os parlamentares que temem ficar com o ônus de legitimar mais um aumento de imposto. Na quinta-feira, avisou que a MP 232 passaria por modificações importantes em relação ao texto original. E a nova versão seria fruto de uma nova negociação com os líderes dos partidos.

- Uma coisa é certa: não vai ser aprovada como foi editada - disse.

Na própria quarta-feira, foi costurado com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, o chamado ''pacote de bondades'', que incluía entre outros pontos a isenção de impostos a exportadores de software e o aumento, de R$ 1,16 mil para R$ 2,9 mil, do limite de isenção para retenção na fonte de 1,5% de Imposto de Renda para caminhoneiros. É claro que há pontos dos quais o governo não vai abrir mão.

Na terça-feira, o ministro Aldo Rebelo vai pilotar a primeira reunião do ano com os líderes da bancada governista para, além de avaliar o momento político e contabilizar apoios na Câmara, organizar a tropa de choque governista para a votação da medida provisória. Pela projeção mais otimista, o governo contabilizaria entre 220 e 240 votos a favor do projeto.

O PP promete não radicalizar. Mas o governo nem pensa em pagar para ver. Até porque, na última semana, Severino deu sinais de que poderá endurecer o jogo. Encaminhou telegramas aos deputados listando projetos que estarão na pauta de votações durante a semana, dispensando a tradicional consulta prévia aos líderes. Na pauta, estão previstas votações até na sexta-feira, fato raro na Casa. Resta saber se, depois de frustradas as negociações para dar um ministério ao PP, o presidente da Câmara cederá.

- O governo já está escaldado em função dos últimos testes de fidelidade parlamentar. É como mulher traída. Depois que flagrou uma vez, não confia nunca mais. Por mais que a relação seja reconstruída, vai haver sempre um pé atrás - comparou um ministro do núcleo político do governo.

Nova rodada de negociação com