Título: Nova rodada de negociação com aliados
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/03/2005, País, p. A3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reinicia essa semana a rodada de conversas com os partidos aliados. Estão agendados encontros com os presidentes do PL e PSB. Mas nessa nova fase pontuada por uma maior incursão do presidente na articulação política, um partido merecerá um zelo maior do governo: o PMDB. Amanhã, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se reúnem com a governadora do Rio, Rosinha Matheus. Em pauta, não apenas a situação financeira do Rio, como os interlocutores tentaram vender na última semana. Mas também uma espécie de preparação de terreno para uma possível composição com o PMDB em 2006. Por isso, até ontem, além de Dirceu e Palocci, estudava-se a participação de Lula no encontro.
Interessado em contar com o apoio do PMDB, e não apenas parte dele, ao seu projeto eleitoral em 2006, o governo pretende atrair a ala oposicionista do partido. Na última semana, Lula recebeu o presidente do partido, Michel Temer, no Palácio do Planalto. Dirceu foi o anfitrião de um encontro no último dia 16 com o deputado Geddel Vieira Lima (BA), e outro no dia 22 com o deputado Eliseu Padilha (RS), ex-ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique. Sob esse mesmo prisma, o presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia, também é aguardado essa semana no Planalto.
O ministro José Dirceu sabe das barreiras que terá de transpor para seduzir a família Garotinho e convencê-la a convergir para um entendimento. No Planalto, até pouco tempo eram considerados os inimigos ''número um'' do governo. Os operadores políticos do Planalto até trabalham previamente com a possibilidade da saída da governadora do Rio e do secretário de Governo do Estado, Anthony Garotinho do PMDB, caso as conversas evoluam para uma aliança. Sabem da disposição do ex-governador em se lançar novamente como candidato à Presidência da República, em oposição a Lula e ao PT. Mas em política, ''nada como um bom diálogo para remover obstáculos aparentemente intransponíveis'', avalia um ministro do núcleo duro do governo. Até para não serem acusados, futuramente, de não terem tentado desobstruir os canais de conversa. Na audiência, ficaria implícito que uma solução para a situação financeira do Rio estaria relacionada a um entendimento que projetasse para o futuro.
No encontro do presidente com Temer na última semana, o deputado peemedebista reconheceu a dificuldade de uma unidade dos dois partidos em todo o país, já que em alguns estados, como o Rio Grande do Sul, existe uma forte disputa entre peemedebistas e petistas. A meta do partido, da qual Temer não abre mão, é assegurar a reeleição, além do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná. A interlocutores, porém, demonstrou satisfação em voltar a ser recebido por Lula. E deixou as portas abertas para um eventual acordo.