Correio Braziliense, n. 21235, 15/07/2021. Política, p. 2

Pacheco é a opção para assumir posto
15/07/2021



Com a internação do presidente Jair Bolsonaro, quem deve assumir as funções do cargo é o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Pela ordem de sucessão, o posto interino ficaria com o vice-presidente Hamilton Mourão, mas o militar viajou, ontem à noite, a Angola. O segundo, pela hierarquia, seria o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O deputado, no entanto, é alvo de inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a jurisprudência da Corte, réus não podem ficar na linha sucessória da Presidência.

Na abertura da sessão de ontem do Senado, Pacheco comentou o caso do chefe do Planalto. “Hoje pela manhã, teríamos a oitava reunião do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus (...). Fui comunicado do cancelamento e, depois, veio o motivo, que foi a internação do senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, com um quadro de saúde que mereceria cuidados”, afirmou. “Agora, tivemos a notícia da transferência do presidente para a cidade de São Paulo, para a avaliação sobre a necessidade ou não de uma intervenção cirúrgica. Gostaria, em nome do Senado Federal, de estimar ao senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, pronta melhora no seu quadro de saúde, que se recupere o mais rapidamente possível.”

Mourão, por sua vez, embarcou a Luanda, capital de Angola, quando Bolsonaro já estava hospitalizado. O vice-presidente visita o país africano para participar de uma reunião da comunidade dos países que falam a língua portuguesa. Ele está acompanhado do ministro Carlos França, das Relações Exteriores; e do secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, Almirante Flávio Rocha.

“Em conjunto, buscaremos meios de fortalecer e promover a cooperação econômica e empresarial em tempos de pandemia, em prol do desenvolvimento sustentável dos países da CPLP (Comunidades de Países da Língua Portuguesa)”, escreveu, em postagem no Facebook.

Em outras ocasiões em que passou por cirurgias, Bolsonaro não se licenciou do cargo. Segundo interlocutores do presidente, ele não confia no seu vice. Os dois já expuseram publicamente o distanciamento. Em entrevista ao Estadão, Mourão contou em junho que não sabe o que se passa no governo. “É muito chato o presidente fazer uma reunião com os ministros e deixar seu vice-presidente de fora. Eventualmente, eu tenho que substituir o presidente e, se não sei o que está acontecendo, como vou substituir? Não há condições”, desabafou, na ocasião. A assessoria do vice-presidente informou que ele não vai cancelar sua agenda no exterior para retornar ao Brasil.

Bolsonaro costuma reagir irritado quando perguntado sobre licença do cargo. Em dezembro, questionado pela imprensa se iria se afastar durante estada no Guarujá (SP), onde passaria a virada do ano, respondeu: “Eu sou presidente até pelado tomando banho em casa”.