Correio Braziliense, n. 21240, 20/07/2021. Política, p. 2

Anvisa autoriza estudo para a 3ª dose de vacina
Maria Eduarda Cardim
20/07/2021



Aproximadamente 10 mil voluntários, que já participaram dos estudos anteriores com a vacina da AstraZeneca e receberam duas aplicações, serão testados com a injeção de reforço para saber se há aumento da eficiência imunológica no combate ao novo coronavírus

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, ontem, um estudo para avaliar a necessidade de uma terceira dose da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca/Oxford, fabricada no país pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa de fase 3, que vai avaliar a segurança, eficácia e a capacidade de produzir imunidade contra o novo coronavírus, com mais uma aplicação do imunizante, será realizada somente no Brasil. Ao todo, 10 mil voluntários de cinco estados — Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte — participarão dos testes. Também ontem, a Pfizer iniciou no país um estudo clínico, aprovado pela Anvisa no mês passado, para testar uma dose de reforço pela vacina que produz.

Os voluntários que receberão a terceira dose da AstraZeneca são pessoas que participaram do estudo inicial e, assim, receberam as duas aplicações — será aplicada entre 11 e 13 meses após a segunda. Segundo a Anvisa, o voluntário não saberá se receberá uma injeção de placebo ou de vacina. "Serão incluídos voluntários, com idade entre 18 e 55 anos, que estejam altamente expostos à infecção com o novo coronavírus, como profissionais de saúde. Não serão incluídas gestantes ou pessoas com comorbidades", explicou a agência reguladora.

A possibilidade de uma terceira rodada de imunização contra a covid-19 é considerada também pela Pfizer. O estudo foi aprovado pela Anvisa e começou ontem em dois centros, que também participaram da primeira pesquisa com a vacina no ano passado. A dose de reforço será aplicada em voluntários com 16 anos ou mais pelo menos seis meses depois da aplicação da segunda injeção.

Ao todo, 885 brasileiros participarão dos testes. Metade foi recrutada pelo centro clínico do Hospital Santo Antônio (HSA) das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Salvador, e a outra metade pelo Centro Paulista de Investigação Clínica e Serviços Médicos (Cepic), em São Paulo (SP).

Mas, diferentemente do estudo da terceira dose da AstraZeneca, o da Pfizer será realizado em outros países além do Brasil — Estados Unidos e África do Sul também participarão dos testes e vão recrutar, no total, cerca de 10 mil participantes.

Sem evidências
Apesar de as pesquisas terem sido aprovadas e os testes iniciados, ainda não há evidência de que será necessário uma terceira aplicação das vacinas contra a covid-19 utilizadas no Brasil. Mas, mesmo sem essa necessidade, alguns estados e municípios anunciaram a possibilidade. Na semana passada, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro divulgou uma previsão para que os idosos com 60 anos ou mais recebam uma além da segunda dose do imunizante entre outubro e dezembro.

Ontem, foi a vez do governo de São Paulo anunciar que o estado iniciará um novo ciclo de imunização contra a covid-19 em janeiro próximo. "O estado seguramente vai iniciar essa campanha de uma nova fase de vacinação a partir do dia 17 de janeiro do próximo ano", afirmou o secretário de Saúde Jean Gorinchteyn, durante a entrega de mais um lote da vacina CoronaVac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), do governo federal.

Apesar do anúncio, ele não informou detalhes sobre o público prioritário e o número de doses que serão necessárias. O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, informou que ainda não há estudos específicos sobre uma terceira aplicação da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan. Na última semana, a Anvisa esclareceu que, "até o momento, não há estudos conclusivos sobre a necessidade de uma terceira dose ou dose de reforço para as vacinas contra covid-19 autorizadas no Brasil".

Diante disso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a criticar a antecipação de anúncios para a aplicação de uma terceira dose ou dose de reforço contra covid-19. Para ele, isso causa insegurança na sociedade. "Nós não conseguimos avançar ainda em 100% da população com a primeira dose da vacina. Qual é a evidência científica disponível que nós devamos já começar a falar em uma terceira dose? Isso só leva mais insegurança à população", ponderou.