Título: Média se aproxima do período de privatizações
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 28/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

A julgar pelo ritmo de processos concluídos em janeiro e fevereiro, especialistas já apostam que a média de incorporações deverá se igualar à dos anos de 1996 a 1998. Naquele período, embalados pelos programas de privatizações nos diversos segmentos de infra-estrutura e indústria, empresários brasileiros e estrangeiros chegaram a promover, em 1997, 372 fusões e aquisições no país, num média mensal de 31 incorporações, o maior número desde que a KPMG iniciou o levantamento, em 1991.

- A diferença é que agora é um movimento espontâneo, sem o estímulo extra de um processo de privatizações - analisa Castelo Branco, da KPMG. O setor de telecomunicações, um dos líderes da movimentação, ainda se encontra em processo de consolidação, segundo ele. - Esse segmento ainda se encontra muito pulverizado e acho saudável que ainda ocorram muitas fusões e aquisições nesse setor porque ele precisa de recursos para investimentos em tecnologia para o fornecimento de um serviço de qualidade.

Prova de que esse setor ainda terá muitas mudanças é a decisão dos fundos CVC nacional e internacional em iniciar o processo de venda dos ativos ainda este ano. Criados na época das privatizações com objetivo de adquirir empresas de setores de infra-estrutura, os dois fundos uniram forças recentemente para retomar o controle das empresas em que têm participações, após a destituição do Opportunity, do empresário Daniel Dantas, da gestão dos recursos. Entre as empresas do portfólio estão a Brasil Telecom, a Telemig Celular e a Amazônia Celular.

Castelo Branco vislumbra, também, movimentação grande no setor de energia.

- Foi um setor que ficou muito adormecido entre os anos de 2001 e 2004, por conta do racionamento. Agora, com a necessidade de desverticalização imposta pelo Novo Modelo do Setor Elétrico (que impede, por exemplo, que os controladores de uma distribuidora também atuem nos setores de geração ou transmissão), os negócios voltarão a ocorrer por exigência da lei.

O professor Yann Duzert, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Ebape/FGV), vê de forma positiva as fusões e aquisições. As ressalvas se dirigem apenas a setores com possibilidade de monopólio.

- De forma geral, todos os setores ganham com o processo de fusões e aquisições. Para alguns, como o de alimentos, é importante especialmente quando o objetivo é buscar fortalecimento para conquistar o mercado externo. Até o de telecomunicações se beneficia, já que pode proporcionar ao consumidor maior acesso a novas tecnologias. O processo só prejudica em setores como o de aviação ou de mineração, por exemplo, porque neles a redução de concorrência se ressente de forma mais dramática, prejudicando, no fim, o consumidor - avalia Duzert.