Título: Temporada de fusões
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 28/03/2005, Economia & Negócios, p. A17
Levantamento da KPMG aponta avanço de 40% na média mensal de negócios entre janeiro e fevereiro em relação a 2004
Se a ocorrência de fusões e aquisições pode ser considerada um indicador do otimismo empresarial em relação à economia, o ano de 2005 deverá ser um marco para o mundo corporativo. Levantamento da consultoria KPMG aponta um avanço de 40% na média mensal de negócios para os dois primeiros meses do ano em relação ao primeiro trimestre de 2004.
E uma análise sobre os atores do processo dá razão à decisão do Banco Central, anunciada na última semana, de elevar de US$ 14 bilhões para US$ 16 bilhões a previsão de investimentos estrangeiros que ingressarão no país até o fim do ano. Foi o capital externo que embalou 54% dos processos de fusão e aquisição verificados este ano, contra 29% nos primeiros 90 dias do ano anterior. A participação de estrangeiros foi maior do que todo o ano passado, quando atingiu 44% dos processos de fusão.
No primeiro trimestre do ano passado, foram verificadas, em média, 19 fusões e aquisições por mês. Este ano, o indicador registrou 26,5 processos por mês, entre janeiro e fevereiro, num período em que tradicionalmente os negócios são mais arrefecidos. Apenas em março de 2004 o número de processos cresceu e chegou a 50, fechando o trimestre em 58. Em 2005, porém, no fim de fevereiro já eram contabilizadas 53 fusões e aquisições.
E o ritmo de incorporações neste início de ano já supera o verificado ao longo dos últimos três anos, que atingiu médias mensais de 24,9 em 2004, 19,1 em 2003 e 18,9 em 2002.
Os estrangeiros, de fato, já demonstram apetite maior. A média de negócios envolvendo estrangeiros adquirindo ativos no Brasil avançou de 5,6 no primeiro trimestre de 2004, para 14,5 nos dois primeiros meses de 2005. Foram 29 transações somente em janeiro e fevereiro de 2005, contra 17 em todo o primeiro trimestre de 2004. Os brasileiros se mantiveram no mesmo ritmo. A média mensal este ano foi de 12 (24 entre janeiro e fevereiro), contra 13 ano passado (39 no trimestre).
- Tal processo só se verifica quando há um otimismo do empresário, porque ele não vai investir pesado sem uma expectativa positiva de retorno - comenta André Castelo Branco, sócio da KPMG e coordenador da pesquisa. Entre alguns exemplos deste início de ano citados pela consultoria estão os negócios entre a Telmex e a Net, a Portugal Telecom com a Mobitel e a TV Cidade com a Multicabo, na área de telecomunicações. No setor de alimentos há os casos da Monsanto com a Seminis, a Bertin com a Marabá e o Grupo Cosan com a Destilaria Tietê.
Tendo como base o renascimento do interesse dos investidores institucionais e estrangeiros em aplicar recursos na aquisição de empresas, o ano será mesmo movimentado. Os sócios da Angra Partners - gestora de fundos de private equity, que tem como estratégia a aquisição de empresas ainda não listadas em bolsa e que precisam de aportes por necessidade de expansão - dizem que esses investidores já estão procurando identificar as melhores oportunidades, motivados pelo reaquecimento da economia.
- Há dez meses, investir no Brasil era considerado um palavrão pelos estrangeiros. Mas, nos últimos meses, o ambiente de investimento vem se tornando mais propício, com menos volatilidade. Com a perspectiva de que o país se torne investment grade (classificação atribuída pelas agências de risco aos países com ótimas condições de honrar seus compromissos), eles sabem que esses ativos terão forte valorização - afirma Pedro Paulo de Campos, sócio da Angra Partners, para quem nem a trajetória de alta de juros será capaz de afugentar os investidores. - Todos apostam que esse cenário não se sustenta no longo prazo, mas esses investimentos têm um tempo de maturação de 4 a 7 anos.
O fato de os brasileiros estarem investindo em ritmo menor não é considerado um sinal negativo, avalia a KPMG.
- Os estrangeiros haviam se retirado em massa em 2001, motivados pelo atentado nos Estados Unidos e a crise na Argentina. Nesse período, os brasileiros mantiveram o ritmo. Também não acredito num efeito da taxa de juros neste momento porque essas decisões de investimento são estratégicas e não olham esses fatores de curto prazo - avalia Marcio Lutterbach, da KPMG.