Título: Concentração cresce no varejo
Autor: Waldo Nogueira
Fonte: Jornal do Brasil, 28/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

Na última década, 13 dos 20 supermercados que lideravam ranking desapareceram ou mudaram de mãos

Há cerca de 20 anos, durante convenção nacional dos supermercados, no Rio de Janeiro, o consultor americano Michael O'Connors surpreendeu ao afirmar que, a médio prazo, várias empresas do ranking brasileiro de supermercados iriam certamente desaparecer ou passar ao controle de outros grupos.

Ninguém sequer imaginava que redes poderosas, como a baiana Paes Mendonça, pudessem ser riscadas do mapa do varejo. Mas foi exatamente o que aconteceu. No início desta década, desapareceram ou mudaram de controle nada menos que 13 das 20 redes que lideravam o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em 1987. Entre elas, Paes Mendonça, Disco (RJ), Eldorado (SP) e Nacional (RS).

Um recuo maior no tempo, para 1976, mostra que o setor tinha melhor distribuição geográfica no grupo das 10 maiores empresas: eram quatro de São Paulo, três do Rio de Janeiro, duas do Nordeste e uma do Rio do Grande do Sul. Havia também menores diferenças nos resultados de vendas. O último ranking da Abras (dados de 2003) mostra uma forte concentração de faturamento nos dois primeiros lugares. As vendas de Pão de Açúcar e Carrefour são cerca de três vez maiores que as do Sonae, classificado em terceiro lugar.

Novos lances deverão alterar a estrutura dos negócios nos próximos anos numa realidade em que a concorrência entre as empresas se agrava com a queda real na renda dos consumidores, desde 2000. Além disso, surgiram novas fontes de gastos, como celular, computador e TV a cabo.

- O principal desafio do varejo é adotar soluções de curto prazo que o tornem competitivo em um cenário claro de aumento de custos e redução do poder aquisitivo dos consumidores - afirma Alejandro Padron, sócio da IBM Business Consulting Services.

Ele prevê que a competição continuará crescendo até chegar, ainda nesta década, ao ambiente de guerra aberta que marca atualmente o varejo dos Estados Unidos.

Na linha de frente dessa disputa, liderada pelo Pão de Açúcar, Carrefour, Wal-Mart e Sonae, restarão somente dois grandes grupos com destaque claramente definido, acredita Padron. Isso já ocorreu no Chile, país que mostra padrões de concorrência e de abertura do mercado semelhantes aos dos Estados Unidos.