Correio Braziliense, n. 21244, 24/07/2021. Economia, p. 8

Inflação em julho segue acelerada
Fernanda Fernandes
24/07/2021



O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, registrou 0,72% em julho, o maior percentual para o mês desde 2004. Em 12 meses, a alta é de 8,59%. Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete tiveram alta de preço este mês. Os principais responsáveis pelo avanço inflacionário foram os setores de habitação e transportes. Os protagonistas: a energia elétrica e as passagens aéreas, que sofreram aumentos significativos.

De acordo com Guilherme Sousa, economista da Ativa Investimentos, os especialistas esperavam um reajuste de 0,64% no IPCA-15. Ele explica que, embora as altas fossem esperadas, o reajuste das passagens aéreas foi além das expectativas. "Estava estimada uma alta de 18% para o mês, e veio 35,64%, então esse item surpreendeu bastante, mesmo a gente já considerando que seria forte", conta Sousa. Segundo ele, com a prévia atual, a expectativa para o IPCA oficial de julho mudou de 0,81 para 0,89.

Um dos itens que também surpreendeu, porém pela desaceleração, foi o de combustíveis. O reajuste inflacionário caiu de 3,69% para 0,38%. A gasolina, contudo, subiu 0,50% e acumula alta de 40,32% em 12 meses. O item, segundo Juliano Ferreira, estrategista macro da BGC Liquidez, foi um dos que mais pressionaram a inflação nos últimos dois meses, acompanhado da energia elétrica residencial.

"A Petrobras, recentemente, aumentou o preço de alguns combustíveis. No caso da gasolina, especificamente, que tem maior peso no IPCA, os preços continuam subindo, embora a inflação do item tenha dado uma arrefecida na leitura do IPCA de junho e nessa leitura mais recente. No caso da energia elétrica residencial, a atual crise hídrica acarretou em bandeiras tarifárias mais altas que ainda foram reajustadas para cima no mês de julho, o que explica a pressão inflacionária vinda desse item", afirma.

Retomada surpreende
Para Guilherme Sousa, a retomada econômica mais forte do que o esperado é a principal propulsora para o aumento dos indicadores. "A economia vem sempre surpreendendo, e os indicadores são reflexo dessa economia mais aquecida. As pessoas estão fazendo mais viagens, gastando mais, e o cenário está se recuperando em um ritmo mais acelerado do que a gente esperava há um tempo", ressalta.

Apesar da alta em quase todos os setores, os grupos de saúde e cuidados pessoais e de comunicação registraram queda no IPCA prévio de julho. O índice reflete o inédito reajuste negativo dos planos de saúde determinado pelo governo em 8 de julho, com retroativo de maio, válido apenas para os planos individuais.