Correio Braziliense, n. 21247, 27/07/2021. Cidades, p. 13

DF tem transmissão comunitária da Delta
Samara Schwingel
27/07/2021



Secretaria de Saúde informou, ontem, que houve registro de contágio local pela variante do novo coronavírus no Hospital de Apoio de Brasília. Até o momento, capital federal tem 45 casos confirmados. Três pessoas morreram

Quatro dias após confirmar a chegada da variante Delta da covid-19, identificada primeiro na Índia, o Governo do Distrito Federal (GDF) registrou transmissão comunitária da nova cepa na capital federal. Dos 45 casos identificados pela Secretaria de Saúde até o momento, 26 envolvem servidores do Hospital de Apoio do de Brasília (HAB), que enfrenta surto da doença. Representantes da pasta acreditam que o contágio local resultou do contato de parentes dos pacientes com outras pessoas. No entanto, essa possibilidade está sob investigação. Para especialistas, o momento é de apostar na vacinação e de reforçar a cobrança do uso de máscaras, bem como a manutenção do distanciamento social — inclusive para vacinados.

Além dos 26 servidores do HAB, o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) identificou outros 13 casos no fim de semana. O reconhecimento das seis primeiras infecções ocorreu na última quarta-feira. Contudo, os primeiros sintomas apareceram entre 28 de junho e 22 de julho. Três pessoas morreram. "Eram de pacientes que estavam internados e tinham comorbidades. Um deles estava vacinado com uma dose e precisava tomar a segunda. Os outros casos estão sendo apurados em relação à vacinação", afirmou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, ontem, em coletiva no Palácio do Buriti.

O chefe da pasta pediu que a população reforce as medidas de prevenção, mas não anunciou novas restrições ou possíveis decretos. "As vacinas possibilitam ter imunidade a partir da segunda dose ou da dose única, mas há uma pequena probabilidade de o vírus ser propagado. Vamos trabalhar com fiscalização, para que não tenhamos aglomerações e para que (as pessoas) usem máscara e álcool em gel", declarou.

Médico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Julival Ribeiro afirma que o aumento de detecções da nova variante gera preocupação. "Principalmente entre os jovens e os não imunizados. Algumas vacinas só têm efetividade contra a cepa após as duas doses", destaca. Ele alerta que a chegada da Delta fez o número de casos disparar em outros países e que, caso o mesmo aconteça no Distrito Federal, há risco de haver novo colapso do sistema de saúde. "Precisamos ter prevenção e vigilância. É necessário que o governo monitore mais os casos e, caso eles aumentem repentinamente, volte com restrições", recomenda.

Julival destaca que infecção pela Delta não inclui alguns dos sintomas clássicos da covid-19 e que a cepa é até 60% mais transmissível. "Ela não dá tanta tosse. Dá mais dor de cabeça, dor de garganta e febre. As únicas esperanças são a vacina e que as pessoas continuem com as medidas preventivas, principalmente com uso de máscaras e garantia do distanciamento social", completa o especialista.

Surto
No domingo, o Hospital de Apoio divulgou nota informando que passa por um surto da covid-19. Por isso, suspendeu novas internações por sete dias. As equipes da unidade de saúde tomaram outras medidas, como restrição de visitas, isolamento de funcionários públicos e terceirizados que testaram positivo para o novo coronavírus, além de alta temporária dos pacientes assintomáticos.

Até ontem, houve identificação de 51 casos da doença entre servidores, dos quais 45 tiveram sintomas. Trinta e dois deles foram levados ao Lacen-DF, para sequenciamento de material genético coletado. Nesse grupo estavam os 26 infectados pela variante Delta. Outros três contraíram a cepa Gama — conhecida como P1 —, identificada primeiro em Manaus. "Todos são servidores imunizados, à exceção de quatro pessoas que não tinham tomado a segunda dose. Eles estão sob acompanhamento", comentou Osnei Okumoto. Dos 390 funcionários do HAB, 180 foram testados e 190 devem fazer exames até sexta-feira. O secretário reforçou a necessidade da vacinação contra a covid-19, principalmente da segunda dose, para garantir proteção contra um possível agravamento da doença.

Situação
Entre domingo e ontem, o DF teve mais 636 casos confirmados de covid-19 e 10 mortes provocadas pela doença. Cinco delas ocorreram nessa segunda-feira. Com isso, o total de infectados chegou a 446.772, enquanto as vítimas são 9.567. A taxa de transmissão fechou o dia em 0,98 — cada grupo de 100 pessoas com o vírus é capaz de transmiti-lo para outros 98 indivíduos. Com as atualizações, a média móvel de casos subiu 5% em relação a 14 dias antes, o que indica estabilidade. O indicador referente aos óbitos mortes ficou em 10,86, valor 1,2% menor do que o registrado duas semanas atrás.

Ontem, a rede pública de saúde teve 78,44% de ocupação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) voltados para o tratamento de indivíduos infectados pelo novo coronavírus. Das 224 vagas, 131 tinham pacientes, 36 estavam livres e 57, bloqueadas. Na rede particular, a taxa chegou a 81,86%, — dos 270 leitos, 168 tinham pessoas internadas e 38 estavam disponíveis.