Título: Em busca do tempo perdido
Autor: Daniela Dariano e Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 27/03/2005, País, p. A4

De olho nas eleições de 2006, o PT do Rio passa por um dilema em torno de um bem precioso, porém fugaz: o tempo. Mais uma vez, o escolhido de grande parte da legenda para concorrer ao governo estadual, apoiado sobretudo pelas alas mais à esquerda, é o ex-deputado Vladimir Palmeira. Mas, há 10 anos fora da vida pública, o partido precisa de tempo para colocar Vladimir como um candidato forte.

Enquanto setores à esquerda correm atrás de apoio do campo majoritário - que tem maioria do partido -, alguns integrantes ligados ao governo Lula alegam que ainda é cedo para discutir nomes para 2006. Por trás do discurso, a intenção de dar mais tempo para alianças que garantam a reeleição presidencial, é meta número um para os governistas.

- Tudo vai permear a eleição de Lula. No Rio, se confirmarmos candidatura própria, o Vladimir é um dos quadros possíveis, mas estamos no princípio e não podemos ignorar a possibilidade de outros candidatos, dentro e fora do PT - diz o presidente do Diretório Regional do PT, deputado estadual Gilberto Palmares.

Em dezembro, o Diretório Regional decidiu, por unanimidade, por candidatura própria na corrida estadual. A decisão, no entanto, pode ser revertida na convenção. Prevista para 18 de setembro, a eleição do Diretório Regional influenciará na escolha ou não de Vladimir. A tendência é que seja escolhido o candidato da Articulação, que detém maioria. Até agora, há três nomes concorrendo dentro da Articulação: Gilberto Palmares, o deputado federal Luiz Sérgio e Alberto Cantalice.

Outra questão em aberto é a escolha para o Senado. A ex-ministra Benedita da Silva e o senador Saturnino Braga disputam a vaga, ameaçada em caso de aliança.

Um dos líderes da Articulação e representante do MEC no Rio, William Campos foi um dos comandantes da intervenção de 1998, mas acredita que agora só Vladimir seria capaz de atrair os militantes.

- Não apoiá-lo agora é condenar o PT a uma derrota fragorosa em 2006. Faremos mea-culpa. Erramos tanto, que estamos apoiando o Vladimir, o único nome capaz de unir de novo o PT do Rio.

O embate entre as correntes do partido deve seguir nos próximos meses, mas se houver uma aliança nacional, mais uma vez, o Rio pode ser usado como moeda de troca. O presidente do partido José Genoino, no entanto, garante hoje que a autonomia será respeitada:

- É cedo para deflagrar o processo de 2006, temos que ter calma. Mas dou todo apoio ao PT do Rio para se unificar e se reestruturar para ser uma grande força política.

Mas o secretário nacional de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, revela o pensamento dos governistas quanto à escolha do nome para a sucessão de Rosinha Matheus:

-Temos que ter cautela. O mais importante é reeleger Lula. É preciso aguardar as possíveis alianças que o partido traçará. Independente disso, o Vladimir é o melhor candidato nesse momento, e ele sabe que se houver uma sinalização nacional, as coisas acontecerão.

O deputado federal Chico Alencar, por sua vez, acha trágica a priorização da eleição de Lula:

- É a mesma lógica intervencionista. O Planalto não pode abafar a planície. Se o Lula quiser ter dois palanques, construa, mas não vá interferir. O povo do Rio de Janeiro tem o direito a uma candidatura própria petista.