Título: Dois PTs em oposição
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/03/2005, País, p. A5
De dentro ou de fora do partido, as principais críticas enfrentadas pelo governo federal desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder se referem à condução pragmática da política nacional, em contraste com promessas de campanha do PT e com a expectativa da população, que pensava ter elegido um governo alinhado com os movimentos sociais. Para ganhar governabilidade, Lula aliou-se a forças de centro e tem sido acusado de manter a política econômica herdada do PSDB. O PT nacional, nesse aspecto, se opõe ao gaúcho, analisa o cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul André Marenco.
Pelos motivos opostos, a legenda é criticada no Rio Grande do Sul. Mais ligado às correntes de esquerda, vinculadas aos movimentos rurais, o partido teria criado, ao longo de governos do estado e da capital, uma imagem de radicalismo. Duas das tendências do PT gaúcho de maior força são a Articulação de Esquerda (a mais rural, ligada ao MST) e a Democracia Socialista, também de esquerda.
- O governo do PT ficou associado a um certo voluntarismo e radicalismo na implementação de suas políticas. Teve uma relação problemática com o Legislativo e com algumas siglas, como o PDT. Não teve interlocução com meios empresariais nem com as mídias. Comprou todas as brigas ao mesmo tempo e gerou uma imagem de intolerância - observa o estudioso.
Ele avalia que esses motivos geraram um forte sentimento antipetista, dividindo o estado. O resultado teria sido a derrota nas últimas eleições estaduais. No ano passado, o fracasso da campanha para a sucessão municipal - com Raul Pont derrotado por José Fogaça (PPS) depois de 16 anos de administração petista - teria sido, também, conseqüência da crise financeira e da perda de capacidade de produção de novas politicas para a classe média.
- Há uma combinação de fatores, mas o início de um declínio tem a ver com o efeito das políticas no governo do estado. Se o PT no governo nacional é demasiado pragmático, o PT no estado foi muito voluntarista - analisa Marenco.
Apesar das recentes derrotas e diferenças em relação ao PT nacional, o cientista político acredita ser improvável uma intervenção da Executiva Nacional na decisão do candidato ao governo do estado. A autonomia das correntes gaúchas tornaria a iniciativa ''uma manobra de alto risco''.