Título: Dividida, legenda busca consenso no Sul
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/03/2005, País, p. A5
Especialista aposta em terceiro nome para evitar nova derrota
No PT gaúcho, que reúne meia dúzia de diferentes tendências só na direção do diretório estadual, há apenas um consenso: a necessidade de buscar consenso. Pára por aí. As duas recentes derrotas - no estado e na capital - não conseguiram apagar uma dicotomia histórica: Olívio Dutra ou Tarso Genro, quem será o candidato ao governo no ano que vem? Cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, André Marenco aposta na ''terceira via''. Insistir num dos ministros de Lula, com imagens associadas, no estado, a um PT do passado, que fracassou nos últimos pleitos, ameaçaria enterrar de vez o sonho dos petistas.
A divisão se reproduz desde 1998, quando houve prévia entre os dois. Olívio venceu e, depois, conquistou o estado - com o atual ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, como vice. O governo fez alianças à esquerda e refletiu o peso de grupos mais radicais. O efeito foi isolamento e perda de outros apoios.
Em 2002, houve nova prévia com os mesmos nomes. Alinhado com os mesmos setores - forças esquerdistas ligadas ao MST, que têm peso forte no PT gaúcho -, Olívio foi derrotado pelo setor mais moderado. Mas Tarso perdeu a eleição para Germano Rigotto (PMDB). O episódio teria desgastado a imagem do atual ministro da Educação, que abandonara a prefeitura da capital antes da derrota.
- O PT não agüentaria outra prévia. Seria lavar a sujeira do partido em público, atacariam-se aspectos dos governos petistas de um e de outro - avalia Marenco.
O quadro surge mais grave se analisada a história do partido no estado. Até 1998, o PT vinha em ascensão. Em 2000, a tendência se inverte, com reflexo no eleitorado porto alegrense, que se reduz. Para Marenco, o desgaste está ligado à passagem pelo governo do estado, que ajudou a disseminar a identidade antipetista. O estudioso recomenda ao PT fugir de ''figuras carimbadas'' para não reeditar a imagem do passado. A disputa depende agora da negociação entre as diversas correntes do PT, cujos representantes citam de Rossetto ao ex-prefeito de Caxias do Sul Pepe Vargas, passando pelos prefeitos de Pelotas, Fernando Marroni, Bagé, Luís Fernando Mainardi, e Gravataí, João Antônio Bordin.
Ainda assim, a divisão entre Tarso e Olívio é evidente. Secretário-geral da direção estadual do PT, da tendência Democracia Socialista (DS), Chico Vicente prega a ''construção de uma candidatura unitária'', mas admite haver um sentimento ''da base do PT de restituir a Olívio o direito de ser candidato''. Segundo ele, a DS tende a apoiar Rossetto ou Pepe; a Articulação de Esquerda definiu apoio a Olívio, assim como a Unidade na Luta, dissidência do PT Amplo. A Ação Democrática também deve voltar a apoiar Olívio:
- A maioria não tem a idéia de lançar Tarso. Não está descartado, mas ainda está aberta chaga da renúncia e da derrota em 2002.
O deputado federal Paulo Pimenta, do PT Amplo, rebate, defendendo o nome de Tarso. O ministro diz que lhe é indiferente ficar na Esplanada ou ser candidato. Faz eco ao discurso da necessidade de evitar prévia. Seus ''companheiros'', afirma, estão orientados para não lançar seu nome. Olívio não fala sobre o assunto, segundo funcionários de seu gabinete no Ministério das Cidades, para não se antecipar à escolha do partido. (D.D.)