Correio Braziliense, n. 21248, 28/07/2021. Mundo, p. 9

Covid-10 força recuo
Rodrigo Craveiro
28/07/2021



Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomenda uso de máscaras em ambientes fechados. Medida vale, inclusive, para cidadãos que completaram ciclo de imunização e coincide com aumento de infecções pela variante Delta do coronavírus

Durante 75 dias, os Estados Unidos experimentaram o retorno a uma vida quase normal. "Se você está totalmente vacinado, não precisa mais usar máscara!", declarou, em tom triunfal, o presidente Joe Biden, em 13 de maio passado. Ante um aumento de 144% no número de casos da covid-19 nas duas últimas semanas — ontem, foram 56,635 novas infecções — e a circulação da variante Delta do coronavírus, o país se viu obrigado a recuar. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), principal agência sanitária norte-americana, tornou a recomendar o uso de proteção facial contra o Sars-CoV-2 em situações específicas.

"Em áreas onde a transmissão (do coronavírus) é alta e substancial, o CDC recomenda que pessoas completamente imunizadas utilizem máscaras em ambientes públicos fechados, a fim de ajudar a prevenir a disseminação do vírus e proteger as outras pessoas. Isso inclui as escolas", declarou Rochelle Walesnky, diretora do organismo. "O CDC aconselha que todos em escolas K-12 usem máscaras", acrescentou, ao citar os estabelecimentos dos ensinos primário e secundário.

Até o fechamento desta edição, os Estados Unidos registravam 34,5 milhões de casos da covid-19 e 611.171 mortos. Depois do anúncio do CDC, a Casa Branca divulgou um comunicado de Biden sobre a decisão. "Quando me candidatei à Presidência dos Estados Unidos, prometi ser franco com vocês sobre a covid-19 — boas ou más notícias. A estratégia funcionou: em seis no cargo, aplicamos mais de 300 milhões de vacinas — 60% dos adultos foram totalmente vacinados e quase 70% começaram as vacinações. Os casos diminuíram, e as mortes reduziram drasticamente. Uma estimativa sugere que nosso rápido envio da vacina salvou 100 mil vidas americanas, talvez mais", afirmou.

Vacinação

De acordo com Biden, o anúncio do CDC, focado nas preocupações com a variante Delta, "é outro passo em nossa jornada para derrotar este vírus". O presidente disse esperar que americanos que moram em áreas cobertas pela orientação do CDC obedeçam a recomendação. "Eu o farei quando viajar a essas regiões", comentou. "Está claro que a mais importante proteção que temos contra a variante Delta é a vacinação. (...) Ao seguirmos a ciência e ao fazermos a nossa parte, sendo vacinados, a América poderá derrotar a covid-19."

O presidente sublinhou que a imunização e o uso de máscaras em áreas impactadas pela variante Delta pode evitar lockdowns, quarentenas, fechamentos de escolas e interrupções enfrentadas pelos norte-americanos em 2020. A nova cepa é responsável por 90% das novas infecções. Um vídeo divulgado pela correspondente da agência France-Presse na Casa Branca mostra um funcionário colocando cartazes sobre a exigência de máscara na sala de imprensa. Biden estuda exigir a utilização de máscaras para funcionários públicos federais. A decisão do CDC não repercutiu bem entre os opositores republicanos. "As vacinas funcionam, e os americanos imunizados não deveriam usar máscaras. Ao forçar os americanos a retornarem às máscaras, o governo Biden não apenas lança dúvidas sobre uma vacina eficiente e segura, mas também contradiz o motivo pelo qual os imunizantes existem", disse Kevin McCarthy, líder da minoria na Câmara dos Deputados.

O CDC divulgou um mapa sobre a presença do Sars-CoV-2 em território norte-americano. Em 24 dos 50 estados dos EUA, o índice de transmissão é considerado alto, incluindo Arizona, Utah, Flórida e Texas. Um artigo publicado na revista Virological mostra que a carga viram de pacientes infectados com a variante Delta chegou a ser mil vezes maior que a dos contagiados durante a primeira onda da pandemia, no ano passado.
O infectologista Robert C. Gallo, um dos descobridores do HIV (o vírus da Aids) e cofundador do Instituto de Virologia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (Estados Unidos), classificou a medida como necessária e lógica.