Correio Braziliense, n. 21249, 29/07/2021. Política, p. 2
Bolsonaro: "Ramos é uma pessoa nota nove"
Augusto Fernandes
Ingrid Soares
29/07/2021
Depois de não ter avisado previamente ao general Luiz Eduardo Ramos de que o transferiria da Casa Civil para a Secretaria-Geral da Presidência, deixando com que o ministro soubesse da notícia por intermédio da imprensa, o presidente Jair Bolsonaro voltou a pisar no calo do militar ao afirmar que o retirou da pasta porque ele não fazia uma boa interlocução com o Congresso.
Na segunda-feira, à Rede Nordeste de Rádio, Bolsonaro disse que "Ramos é uma excepcional pessoa, mas o linguajar do Parlamento, ele tinha dificuldade".Ontem, em entrevista à Rádio Cidade Luís Eduardo Magalhães (BA), ele deu nota nove ao general, por mais que o militar seja um dos ministros mais alinhados com a agenda defendida pelo chefe do Executivo. De acordo com o mandatário, o novo ministro, Ciro Nogueira, é mais adequado para o cargo. "Ele (Ramos) não é 10 porque falta para um pouco de conhecimento para melhor conversar com parlamentar".
"Trouxe para dentro da Presidência agora, no ministério mais importante nosso, que é o da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira, do Piauí. Então, é um homem adequado para conversar com o Parlamento. E o general Ramos foi para outro ministério palaciano. E é aquela história, né: o general Ramos é uma pessoa nota nove. É a mesma coisa de eu querer que o Ciro converse com o alto-comando das Forças Armadas. Ele sabe como conversar de forma adequada, vamos assim dizer", comentou. "Ciro é um senador que teve seis mandatos de deputado federal e foi meu companheiro de Casa por muito tempo. Tenho certeza de que a interlocução melhorará e muito. Ninguém melhor que um senador experiente."
Insatisfação
A declaração de Bolsonaro não foi bem recebida por Ramos, muito menos por outros militares que fazem parte do governo. O ministro vinha sendo alvo de críticas de deputados e senadores por conta dessa "deficiência" no diálogo com o Parlamento, mas ouvir o presidente sustentar esse discurso deixou o general incomodado.
Ramos não esperava escutar esse tipo de declaração do chefe, ainda mais publicamente. Apesar das críticas pela falta de entrosamento com o Congresso, o ministro foi um dos que ajudaram Bolsonaro quando o presidente decidiu se aproximar do Centrão, no ano passado, em nome da governabilidade. O general também tornou-se peça importante no início de 2021, para impulsionar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara. Ele mobilizou a base aliada para garantir a vitória do deputado.
O ministro também não contava com mais uma mudança ministerial. Antes de assumir a Casa Civil, era o titular da Secretaria de Governo, até que, em março deste ano, deu lugar a Flávia Arruda. À época, a alteração também aconteceu pela insatisfação de parte do Congresso com Ramos. Ao ser transferido para a Casa Civil, o general acreditava que o assunto estava resolvido.
Como é da postura do ministro, porém, ele vai evitar comentários sobre as ponderações feitas por Bolsonaro.