Correio Braziliense, n. 21252, 01/08/2021. Economia, p. 7

Fome volta a ganhar terreno no país
01/08/2021



Neste mês, um episódio chamou a atenção para a situação do desemprego e a necessidade de dezenas de milhares de brasileiros, após moradores de Cuiabá formaram uma extensa fila em frente a um açougue para pegar os restos de ossos doados pelo estabelecimento.

De acordo com Inês Rugani, do grupo de Alimentação e Nutrição da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a cena retrata não só o reflexo da pandemia, mas a precarização das políticas públicas voltadas para o combate à fome e para a segurança alimentar.

"Desde 2016, a gente percebe um processo de desmantelamento das políticas de garantias de direito que permitiram ao Brasil, nos anos anteriores, um processo de melhoria. A gente tinha conseguido sair do mapa da fome, devido a uma sequência de anos com as pessoas tendo melhor acesso a recursos e alimentação em geral, e voltamos a regredir."

Pesquisa
A pesquisa "Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil", coordenada pelo Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça, 59,3% da população brasileira (125,6 milhões de pessoas) vive em situação de insegurança alimentar, ou seja, não come em quantidade e qualidade ideais, desde a chegada do novo coronavírus.

Segundo Rugani, a mortalidade infantil também voltou a assombrar o país. "A mortalidade infantil é um indicador sensível às condições de vida, e voltou a aumentar depois de décadas. Com a pandemia, esse cenário se agrava, porque muitas pessoas perderam a rede de solidariedade que tinham na sociedade civil, que são as pessoas se apoiando", explica ela, que também é professora do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.