Título: Lula renova apoio a Chávez
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/03/2005, Internacional, p. A7
Presidente diz que ''não aceita insinuações contra companheiros'' em crítica a ataque dos EUA a aliado
CiUDAD GUAYANA, Venezuela - Em um momento político delicado na América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o papel de liderança do Brasil no encontro de cúpula que reuniu o brasileiro e os colegas Hugo Chávez (Venezuela) - o anfitrião -, Alvaro Uribe (Colômbia), e o primeiro-ministro José Luiz Rodriguez Zapatero (Espanha), em uma cidade a 550 km Sudeste de Caracas. Em um encontro marcado por condenações aos ''rumores e acusações que ameaçam as relações entre os países'', Lula deixou claro ao vizinho e aliado que não gostou e não concorda com as críticas do secretário de Estado americano, Donald Rumsfeld, semana passada, em Brasília.
Para Rumsfeld, Chávez ''desestabiliza a região e atua com simpatia às ações da guerrilha''. As declarações foram dadas em função de recentes restrições às liberdades civis impostas por Caracas e pela compra de 100 mil fuzis AK-47 que vão armar milícias populares contra um suposto ataque americano. A aquisição inclui ainda barcos, caças russos e aviões de transporte C-295 espanhóis, acerto esse que será fechado com Zapatero, ainda esta semana, no valor de US$ 800 milhões.
- Não aceitamos insinuações contra companheiros. A Venezuela tem o direito de ser um país soberano sem ser acusada de coisas que a gente, que convive com você, Chávez, sabem que não fazem parte do seu comportamento. Quero paz para que Chávez possa dar ao povo venezuelano o que este espera do governo.
Antes, Lula havia dito:
- Tem muita gente falando mal de nós pelo mundo.
Chavéz disse que as acusações de que apóia grupos subversivos e dá apoio ao narcotráfico incomodam.
- Às vezes dói, a gente vai se curando aos poucos, mas continua sempre doente. A mão peluda vai seguir inventando como agora, quando nos acusam de armar a guerrilha. A Venezuela não apóia rebeldes, nem narcotraficantes, nem movimentos contrários aos governos.
Falando ao presidente colombiano, Lula reiterou que seu partido, o PT, nunca recebeu recursos vindos das Forças Armadas Revolucionárias da Bolívia (Farc), informação que a própria guerrilha já havia negado em entrevista publicada pelo JB no último domingo.
- Não levamos isso a sério. O Brasil se põe à disposição para ajudar a Colômbia em seu processo de paz - afirmou o brasileiro.
Uribe respondeu que considera importante que os países não se sintam cercados pelos rumores, mas que ponham em prática a agenda comum entre eles.
- Presidente Lula, não é preciso explicações, eu fico envergonhado - disse o colombiano. - Vamos trabalhar uma agenda onde vocês possam nos ajudar em um ambiente de confiança - acrescentou Uribe, que enfrenta acusações de ligações políticas com paramilitares de direita.