Valor Econômico, n. 5237, 28/04/2021. Política, p. A11

 

“O chinês inventou o vírus”, afirma Guedes

Matheus Schuch

Edna Simão

28/04/2021

 

 

Ministro diz ainda que vacina americana é mais efetiva

Sem saber que estava sendo gravado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem, em reunião do Conselho de Saúde Complementar, que o “chinês inventou o vírus”, mas a vacina deles é menos efetiva que a dos americanos. Na fala, em que defendeu a eficiência da indústria americana, o ministro classificou a vacina da Pfizer, ainda não disponível no Brasil, como a melhor do mercado contra o coronavírus, e fez críticas aos resultados oferecidos no atendimento de saúde pública no país.

“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva do que a americana”, afirmou Guedes. “O americano tem 100 anos de investimento em pesquisa, então os caras falam: ‘qual é o vírus? É esse? Tá bom’. Decodifica e está aqui a vacina da Pfizer. É melhor que as outras”.

A reunião ocorreu no Palácio do Planalto e foi coordenada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que preside o conselho. Ontem, no Senado foi instalada a CPI da pandemia, com grande capacidade de provocar desgaste ao governo em relação ao tema.

Incomodado por não ter sido comunicado previamente sobre a transmissão do encontro, Guedes chegou a recomendar a Queiroga que ele não mandasse o vídeo “para o ar”. O titular da Saúde esclareceu que o objetivo da transmissão era permitir contribuições da sociedade, pela internet. Mas o vídeo foi excluído logo após o término da audiência.

 

Questionada, a assessoria do ministério informou, por meio de mensagem: “Deu um problema técnico, a transmissão estava sendo feita por celular/4G, caiu e não conseguimos reconectar.”

Guedes também discursou a favor do aumento da participação da iniciativa privada em setores econômicos, principalmente, para atendimento das pessoas de baixa renda. “Nós do governo não teremos capacidade de cuidar da saúde do povo”, frisou, destacando novamente a ideia de criar um “voucher da saúde”, em que a população de baixa renda poderia escolher o hospital em que será atendida. A proposta é levantada pelo ministro desde o início do governo e ainda não avançou.

Depois de elogiar de forma reiterada a eficiência do setor privado na prestação de serviços, Guedes soube que a audiência estava sendo transmitida e pediu espaço para esclarecer que não estava falando de forma generalizada ao criticar a saúde e educação públicas. Ele destacou ter estudado em escola pública e disse ser a prova viva de que é possível mudar de condição social quando se tem boa qualidade de ensino.

Queiroga complementou a fala defendendo que o setor privado precisa ser mais transparente no compartilhamento de dados sobre os resultados obtidos por seus conveniados para que o ministério e a sociedade tenham conhecimento.

Horas depois do evento no Planalto, o ministro da Economia procurou consertar o impacto negativo de suas palavras. “Usei uma imagem infeliz”, afirmou. “Falávamos da necessidade do setor privado de saúde complementar nos ajudar no combate à pandemia. Usei uma imagem que o vírus veio de fora; não é o vírus inventado”. E concluiu. “Somos muito gratos à China por ter nos enviado a vacina. Eu tomei a Coronavac”.