Valor Econômico, n. 5237, 28/04/2021. Política, p. A10
Relator da CPI, Renan compara gestão na Saúde a crimes contra a humanidade
Vadson Lima
Renan Truff
28/04/2021
A instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) da pandemia expôs a insatisfação do governo Jair Bolsonaro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), considerado um aliado do Palácio do Planalto. O descontentamento veio a público pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, que elevou o tom contra o senador do DEM. Flávio chamou Pacheco de “ingrato” e “irresponsável” por deixar caminho livre para o início das investigações na Casa.
Na avaliação dele, o presidente do Senado teve entendimentos diferentes diante de decisões judiciais sobre um mesmo tema. Isso porque Pacheco autorizou a abertura da CPI depois de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), mas, dias depois, rechaçou liminar de primeira instância que impedia o senador Renan Calheiros (MDB-AL) de assumir a tarefa de relator na comissão de inquérito. “Pacheco diz que decisão [do STF] não se discute, se cumpre. Mas passados alguns dias, a Justiça determina que Renan não seja relator, e ele diz que não vai cumprir”, disse.
Flávio escancarou também que esperava ter sido procurado por Pacheco sobre a instalação da CPI. “Da minha parte entendo que houve ingratidão, falta de consideração por parte do presidente de pelo menos nos buscar para que pudéssemos dar nosso ponto de vista”, argumentou.
O filho do presidente Jair Bolsonaro ainda acusou Pacheco de ter sido “irresponsável” ao permitir a instalação da CPI neste momento, quando diversos Estados estão próximo da ocupação máxima em suas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “O governo é a favor de que tudo seja investigado, vai ser importantíssimo que tudo seja passado a limpo, mas não agora”, pontuou.
O Valor apurou que Pacheco não vai responder a “cotovelada”, apesar de o episódio ter sido considerado desagradável. Segundo interlocutores, o presidente do Senado entende que tem de estar “acima disso”. “Ele não vai entrar nesse tipo de embate. Sabe que isso [troca de farpas] pode atrapalhar na fluidez do trabalho legislativo. Já foram aprovados vários projetos importantes com a ajuda do governo. Se ele entrar nessa briga, vai atrapalhar isso tudo”, disse uma fonte próxima.
O embate fez o senador Renan Calheiros ironizar a postura do Palácio do Planalto. “Eles nunca contaram com a instalação [da CPI], eles achavam que entre o Pacheco não querer [a comissão] e uma decisão do Supremo ainda tinha um espaço muito grande. Erraram nisso”, sugeriu. O revés para o governo deve afetar, inclusive, as relações com o MDB no Senado. Flávio Bolsonaro ameaçou retirar o Republicanos, seu partido, do bloco Unidos Pelo Brasil, que é formado também por emedebistas e o PP.
Segundo fontes, essa ameaça é na verdade uma tentativa de “manobra” do Executivo. Isso porque, com um bloco menor, o MDB teria direito a menos cadeiras na CPI, o que poderia alterar a configuração da composição do colegiado. Hoje, o Palácio do Planalto é minoria na comissão, com apenas quatro senadores diante de sete parlamentares independentes. Os senadores do MDB dizem, entretanto, que a saída do Republicanos só altera uma vaga de suplência.