Valor Econômico, n. 5241, 04/05/2021. Política, p. A8

 

Salles critica cortes em governos anteriores

Marcelo Ribeiro

04/05/2021

 

 

Ministro do Meio Ambiente, diz que redução do Orçamento dificulta a atuação da pasta

Blindado por uma tropa de choque formada por parlamentares alinhados ao presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reconheceu ontem que a redução do Orçamento dificulta a atuação da pasta, mas afirmou que cortes maiores foram feitos em governos anteriores. Ele reclamou que deputados e senadores destinaram poucos recursos para a área por meio das emendas parlamentares.

Em participação nas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Viação e Transporte da Câmara, Salles mencionou levantamento sobre a evolução histórica do orçamento da pasta nos últimos anos. O ministro destacou a redução entre 2013 e 2015. De acordo com os números apresentados pelo ministro, o orçamento do ministério era de R$ 14 bilhões em 2013 e caiu para R$ 9 bilhões em 2014 e para R$ 4,5 bilhões em 2015. Em 2021, estão disponíveis R$ 2,9 bilhões para a pasta.

“A grande redução orçamentária da área do Meio Ambiente se deu entre os anos de 2014 e 2015. Daí por diante, o orçamento vem se mantendo em declínio, mas um declínio mais suave”, disse Salles.

O ministro lembrou que nesse período de grande redução de recursos disponíveis para a pasta o país era governado por outro partido, sem citar Dilma Rousseff ou o PT. “Aí a gente pode ver quem era o presidente da República, que partido que comandava o Brasil, quem era o ministro do Meio Ambiente em 2015 e perguntar para ele ou para ela por que o orçamento do ministério em 2015 passou a ser um terço do que era um ano antes ou dois anos antes. É uma questão que precisa ser respondida. Nem de longe, nesses anos de administração do presidente Jair Bolsonaro houve queda na proporção que nós experimentamos de 2014 para 2015”.

O auxiliar de Bolsonaro reclamou do baixo volume de recursos destinados pelos parlamentares ao meio ambiente. Ele destacou que 2.831 emendas foram direcionadas ao Ministério da Saúde, somando R$ 9 bilhões, que 473 emendas foram para o Ministério do Desenvolvimento Regional, totalizando R$ 3,7 bilhões e que outras 673 emendas foram destinadas para o Ministério da Educação, chegando a R$ 1,3 bilhão. De acordo com ele, apenas 96 emendas foram voltadas ao meio ambiente, somando R$ 62 milhões.

“Esse valor é 50 vezes menor do que foi destinada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, 20 vezes menor do que foi designado para o Ministério da Educação e 166 vezes menor do que foi destinado para a Saúde. Uma parte da composição orçamentária do ministério poderia ser feita por muitos dos que acusam o governo federal, de maneira equivocada, de termos fragilizado o orçamento da pasta”.

O ministro ainda rechaçou a afirmação de que o ano de 2020 tenha batido o recorde de desmatamento no Brasil e alegou que os números vêm subindo desde 2012. “Como todos sabem, esses números são públicos, e o desmatamento em 2004, 2005 e 2006 foi três vezes maior do que foi no ano de 2020”.

Com o respaldo da presidente da comissão do Meio Ambiente, Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de Bolsonaro, Salles não respondeu perguntas sobre a operação da Polícia Federal que apreendeu madeira no Pará.

Insatisfeito com a atuação do ministro, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) elaborou um novo requerimento para que o colegiado convoque Salles e já começou a recolher assinaturas entre os integrantes da comissão.

Antecessor de Carla à frente da comissão, o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), disse que Salles está acuado. “Ele sabe que a situação está crítica para ele e que não vai conseguir entregar seus compromissos. Resolveu mais uma vez partir para o ataque. Recusou-se a responder sobre seu envolvimento com os madeireiros e foi blindado o tempo todo pela presidente da comissão”, disse Agostinho.