Título: PP assedia senadores para montar bancada na Casa
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 29/03/2005, País, p. A2

Partido convidou quatro parlamentares do PMDB a ingressar na legenda

Depois de conquistar a presidência da Câmara, com o deputado Severino Cavalcanti (PE), o PP articula nos bastidores para montar uma bancada no Senado, onde não tem representante. O líder do partido na Câmara, José Janene (PR), confirma que a operação está em curso. Ela envolve o convite a ''três ou quatro'' senadores para ingressarem na sigla, deve ser encerrada em ''20 ou 30 dias'' e é comandada pelo presidente nacional do PP, Pedro Corrêa (PE).

Procurado pelo Jornal do Brasil, Corrêa confirmou, por meio de assessoria de imprensa, as negociações. Declarou, no entanto, que não foi autorizado pelos senadores sondados a comentar o caso. Líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), afirmou ontem que o PP procurou quatro senadores do partido. São eles: Gerson Camata (ES), João Batista Motta (ES), Valmir Amaral (DF) e Mário Calixto (RO), suplente de Amir Lando, que perdeu a vaga com o retorno do ex-ministro da Previdência à Casa.

Em reunião que contou com a participação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Amaral e Motta foram demovidos da idéia de mudar de partido, segundo Suassuna. Ao primeiro, foi ofertado o posto de suplente na candidatura do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, ao Senado. Ao segundo, foi lembrado de que o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, negocia para se filiar ao PMDB. Com isso, não seria interessante, politicamente, para Motta marchar em fileiras opostas às do chefe do Executivo capixaba.

- Mostramos que não vale a pena trocar um amor antigo por um novo e inconsistente - disse Suassuna.

Apenas Camata ainda cogitaria a possibilidade de migrar para o PP. O motivo seria a suposta divergência pessoal com o presidente do PMDB no Espírito Santo.

- Estamos tentando contemporizar - afirmou Suassuna.

De acordo com o líder do PMDB, o PP também convidou a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) para entrar no partido. O convite já foi feito explicitamente pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), durante visita a Rio Verde (GO). A troca garantiria a Lúcia a sigla de que necessita para concorrer ao governo de Goiás, projeto que não tem respaldo no ninho tucano. Se a senadora e Camata assinarem a ficha de filiação, o PP ainda não terá os três senadores exigidos para ter direito, entre outros, a gabinete de liderança e a cargos. Para fechar a conta, circula nos bastidores o nome da senadora Maria do Carmo Alves (PFL-SE).

Contactada pelo JB, a assessoria do senador Camata informou que ele está viajando. Já a assessoria de Lúcia Vânia não retornou até o fechamento desta edição. A legislação atual não proíbe a mudança de partidos. O troca-troca registrado nos dias que antecederam a eleição para a Mesa Diretora da Câmara incentivou os líderes, pelo menos no discurso, a lutar pela aprovação da fidelidade partidária ainda neste ano. A idéia é permitir que um político se candidate apenas se estiver há pelo menos três anos no partido.

- É uma vergonha. Estou revoltado. Tem de haver logo reforma política para haver punição. O parlamentar não é dono do mandato - disse Severino Cavalcanti, sobre a infidelidade partidária, em entrevista ao JB logo após assumir a presidência da Câmara.