Correio Braziliense, n. 20614, 31/10/2019. Brasil, p. 7

Investigação agora abrange dez navios
Maria Eduarda Cardim
Rodolfo Costa
Catarina Loiola
31/10/2019 



O estrago provocado pelo vazamento de petróleo nas praias nordestinas completou dois meses ontem sem que o governo federal tenha alguma previsão sobre quando a substância vai deixar de se espalhar. A origem tampouco foi identificada, mas a Marinha divulgou ontem um avanço nas investigações. Foram reduzidos de 30 para 10 o número de navios investigados, ou seja, aqueles com potencial para ter originado o vazamento de óleo que atinge a costa nordestina. 

As suspeitas em relação a “dark ships”, os chamados navios fantasmas, não estão descartadas, reiterou o comandante da Força, Ilques Barbosa Júnior, após reunião com o presidente em exercício, Hamilton Mourão. As suspeitas indicam que o derrame tenha origem de alguma embarcação que navegava pela costa do país. Outra informação aponta para o vazamento de óleos de campos venezuelanos, confirmou Ilques. O comandante da Marinha, no entanto, evitou cravar a participação do governo venezuelano ou de alguma empresa do país na ocorrência. 

“Essa é uma informação que faz parte do inquérito. Nesse momento, vamos ficar com informação da origem da Venezuela. Seria uma ilação perigosa e antiética envolver o governo da Venezuela nesse tipo de atividade, mesmo que uma simples ilação. Não é correto falar isso”, disse. O comandante frisou, contudo, que nenhuma linha de investigação está descartada. 

“De momento, vamos abrir inquérito no âmbito da Marinha e da Polícia Federal, que interagem. Não posso dizer que essa linha, o ‘dark ship’, foi abandonada ou não foi. Estamos com amplo espectro, como um navio mercante que passou pela nossa costa”, destacou. A possibilidade de ser um navio que tenha desligado o sistema de identificação na costa brasileira, tornando-se um “navio fantasma”, está entre as avaliações. 

Uma mancha de óleo na Bahia também está sob investigação. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) identificaram uma mancha característica de óleo no sul do estado. Ilques explica que essa mancha foi investigada na última terça.  “Foi vista por satélite, com apoio da nossa Força Aérea, que enviou, em coordenação com nosso distrito naval, uma aeronave lá. E enviou uma outra aeronave hoje. Posicionamos navios, deslocamos, com apoio da Petrobras, outro navio por conta dessa mancha específica, mas, até o momento, ela não foi confirmada. Não quer dizer que não exista. Estamos buscando com a maior atenção”, explicou. 

Em nota, a Marinha negou a existência de óleo no mar, próximo à costa da Bahia. Segundo o órgão, para confirmar a existência da mancha, quatro avaliações foram feitas. Uma consulta aos especialistas da Federação Internacional de Poluição por Petroleiros (ITOF), um monitoramento aéreo, outro por meio de navios na região e mais um por meio de satélite. “Em relação à possível mancha que estaria avançando pelo mar da Bahia, informamos que não se trata de óleo. Segundo especialistas do ITOF, ela possui diversas características, podendo ser nuvem, fenômeno da ressurgência no mar etc.”