Correio Braziliense, n. 20614, 31/10/2019. Mundo, p. 15 

Bolívia e OEA acertam auditoria
31/10/2019



O governo da Bolívia concordou com a realização de uma auditoria das eleições, após a polêmica vitória do presidente Evo Morales. A revisão dos votos será feita pela Organização dos Estados Americanos (OEA) com o objetivo de encontrar uma solução para os protestos que continuam a tomar as ruas do país. “Concluímos os acordos a serem firmados entre a Bolívia e a OEA para que se possa fazer a auditoria integral das eleições gerais de 20 de outubro”, anunciou o chanceler boliviano, Diego Pary, em entrevista coletiva. Como o candidato opositor Carlos Mesa tinha denunciado, “o resultado do informe da auditoria será vinculante para as duas partes”, acrescentou Pary. Mesa denuncia a ocorrência de fraude eleitoral com o intuito de conceder a Morales o quarto mandato consecutivo. 

O acordo com a OEA garante “a verificação das atas, verificação do processo, de dados estatísticos e da cadeia de custódia” dos votos, além do “acesso às instalações e às informações que forem solicitadas” pelos técnicos que devem chegar ao país nesta quinta-feira. A expectativa é de que a auditoria comece ainda hoje. Segundo o acerto, o processo de revisão “se concentrará na jornada eleitoral e nas fases subsequentes”. 

Ontem, Mesa disse rejeitar a auditoria eleitoral “unilateral” entre o governo Morales e a OEA. “Nós não aceitamos a auditoria nos termos atuais, pactuados unilateralmente”, afirmou o opositor, horas depois do pronunciamento do chanceler Diego Pary. No dia anterior, porém, este centrista que governou a Bolívia entre 2003 e 2005 tinha acolhido a revisão do processo, sob a justificativa de que tinha esperança de que “se demonstre a fraude de maneira categórica e inequívoca”. 

A auditoria foi sugerida na semana passada pelo presidente boliviano ao secretário-geral da OEA, Luis Almagro, depois de a oposição ter denunciado uma fraude para garantir o quarto mandato de Morales, com a cumplicidade do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Um primeiro sistema de contagem rápida de votos do TSE antecipava, horas depois da votação, um segundo turno entre Morales e Mesa. Depois de um silêncio de mais de 20 horas sobre o avanço da apuração, a tendência mudou e foi declarada a vitória de Morales no primeiro turno. O presidente obteve 47,08% dos votos contra 36,51% para Mesa. A lei boliviana atribui a vitória no primeiro turno se um dos candidatos atingir mais de 50% dos votos, ou com 40% e uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo.

Radicalização 

A decisão pela auditoria não é compartilhada por alguns grupos civis que lideram há uma semana os protestos em várias cidades do país. Contrário à auditoria da OEA, o líder do opositor Comitê Cívico de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, propôs anular as eleições. “A solução é anular as eleições e ir para um novo processo (...). Se o governo aceitar, a greve será suspensa”, garantiu Camacho, referindo-se à paralisação em curso nesta localidade do sudoeste boliviano que também ocorre em outras cidades, como La Paz. 

Em meio aos protestos, nesta semana houve duros confrontos em Santa Cruz, La Paz e Cochabamba entre simpatizantes de Morales e de Mesa. Por enquanto, o balanço é de mais de 40 feridos, incluindo cinco baleados. Diante da escalada da violência, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez “um apelo clamoroso e urgente aos atores políticos, aos setores sociais e a todas e todos os bolivianos para reduzirem tensões e rejeitarem qualquer ato de violência”.