Título: Novo terremoto revive traumas
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/03/2005, Intrernacional, p. A7

Sismo de 8,7 graus na escala Richter, registrado na mesma área do de dezembro, matou 240 pessoas em ilha da Indonésia

AFP Assim que as sirenes soaram, os habitantes de Banda Aceh saíram em disparada para lugares altos

JACARTA - A ilha indonésia de Sumatra - onde há três meses um tremor de 9,3 graus na escala Richter provocou um tsunami que matou pelo menos 273 mil pessoas na Ásia e na África - foi novamente sacudida por um forte terremoto, de 8,7 graus. Habitantes da Indonésia, Malásia e Cingapura entraram em pânico. Um alerta para a possibilidade de maremoto ao Sul, na direção das Ilhas Maurício e Rodrigues, foi divulgado depois que as Ilhas Cocos, ao Sul do epicentro, sofreram uma variação na maré.

- Não observamos um maremoto, mas um pequeno tsunami. Houve elevação do nível do mar em Cocos - afirmou Robert Cessaro, do Centro de Alerta para Tsunami no Pacífico, no Havaí. - A maré já subiu 10 cm - salientou o sismólogo Phil Cummins, do escritório de Geociências da Austrália.

Segundo a agência geológica dos Estados Unidos, o US Geological Survey (USGS), o epicentro foi localizado a 30 km de profundidade no leito do Oceano Índico, 205 km a Oeste de Sibogla, Norte de Sumatra. O tremor ocorreu às 23h09, durou três minutos e foi sentido em toda a ilha e em países vizinhos. O vice-presidente indonésio Jusuf Kalla disse que o número de mortos gira entre 1.000 e 2.000 pessoas.

Na província de Aceh, na Indonésia, as pessoas fugiram para locais altos assim que sentiram as construções balançarem. Também em Cingapura e na Malásia, países não atingidos pelo maremoto de 26 de dezembro, os moradores correram para as ruas. Na província malaia de Kedah e na ilha de Langkawi, policiais bateram às portas para pedir que os habitantes fossem para as montanhas.

- Tenho certeza de que há dezenas de mortos - previa o vice-prefeito Agus Mendrofa, da cidade de Gunungsitoli, na ilha indonésia de Nias. No início da noite, os temores do prefeito eram reais: o número de vítimas na ilha passava de 240 e deveria aumentar em função do fato de haver, segundo ele, milhares de pessoas presas sob os escombros das casas, principalmente na capital da ilha.

- Um terço de Gunung Sitoli foi destruído. Trezentos prédios ruíram - confirmou o policial Raja Gukguk.

O coordenador da assistência de emergência da ONU, que organiza a ajuda humanitária aos sobreviventes da tragédia de dezembro, Jan Egeland, disse que 10 mil pessoas vivem dentro do perímetro de 50 km em torno do epicentro.

Sismólogos acreditam que tenha se tratado de um forte tremor secundário, ainda relativo ao terremoto submarino do fim do ano passado. Egeland, entretanto, discorda: - É um terremoto dos grandes.

Minutos depois do sismo, o Centro de Alerta para Tsunami no Pacífico divulgou uma advertência de que o abalo em Sumatra teve potencial para causar um ''maremoto amplamente destruidor'' e que as autoridades dos países deveriam tomar ''ações imediatas'', deslocando as pessoas que estiverem no litoral, a pelo menos mil quilômetros do epicentro. Depois, corrigiu que a direção provável seria o Sul, pois foi o ponto de maior liberação de energia.

O USGS, por sua vez, sustenta que além da África - onde ficam as Ilhas Maurício - Sumatra e o Sri Lanka estão na rota da eventual onda gigante.

Diferentemente do que ocorreu em dezembro, quando denuncia-se que a Tailândia recebera um alerta de tsunami mas não o divulgou para não causar pânico, Bangcoc foi o primeiro governo, dentre os países arrasados há três meses, a repassar para as províncias sulinas o alerta do USGS.

- O sismo é forte o bastante para que se peça às pessoas que, por precaução, saiam especialmente das áreas afetadas pelo tsunami de dezembro - reagiu Chalermchai Akekantrong, diretor do departamento tailandês de meteorologia.

- Mais de 3 mil turistas que estavam nas praias de Patong e Kamala foram levados para lugares mais altos - informou Wichai Buapradit, o vice-governador da ilha de Phuket, famoso balneário que atrai turistas do mundo todo. A maioria dos visitantes mortos na tragédia de dezembro estava na Tailândia.

Assim como o Sri Lanka, a Indonésia pediu que os ilhéus estejam preparados para uma eventual retirada. O governo das remotas ilhas indianas de Andaman e Nicobar também divulgou um alerta inicial de tsunami, entretanto não começou a evacuação.

- A polícia está de prontidão nas áreas costeiras para qualquer problema maior - afirmou o tenente Ram Kapse.