Valor Econômico, n. 5244, 07/05/2021. Política, p. A10

 

Presidente ataca comissão e ministro do STF

Marcelo Ribeiro

07/05/2021

 

 

Presidente disse que a utilização da cloroquina não pode ser contestada por quem não oferece alternativas

Alvo preferencial de integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, o uso da cloroquina como tratamento contra a covid-19 voltou a ser defendido ontem pelo presidente Jair Bolsonaro. Em “live”, o presidente disse que a utilização do medicamento não pode ser contestada por quem não oferece alternativas e reclamou do tratamento recebido pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI. Ele aproveitou para fazer críticas ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e novamente defendeu a realização de atos em defesa de seu governo e contra o Judiciário.

Bolsonaro afirmou que no domingo irá andar de motocicleta por Brasília e terá a companhia de diversos apoiadores no passeio. Também elogiou a realização de um ato que será realizado por produtores rurais no dia 15.

“Não sou cientista, não sou médico, não sou infectologista, mas devemos continuar procurando um remédio para a questão da covid. A CPI hoje bateu muito no Queiroga. Cloroquina, cloroquina, o tempo todo cloroquina. Eu fui tratado com cloroquina e ponto final”, declarou. “Falei com vários senadores. Vou chutar que no mínimo dez senadores usaram. Todo mundo usou. Quem não tem uma alternativa cala a boca, deixa de ser canalha em criticar quem usa alguma coisa.”

Bolsonaro afirmou ter acompanhado alguns momentos dos depoimentos feitos por Queiroga e ex-ministros da Saúde. Disse que “não dá para ouvir tudo porque é uma xaropada”.

Na sequência, o presidente reclamou de um dos membros da CPI, que classificou frases suas como “causa de morte” - algumas das frases de Bolsonaro foram lidas por Renan Calheiros, relator da comissão, em pergunta a Queiroga. “Frase não mata ninguém, o que mata é desvio de recursos públicos, que o seu Estado desviou. Então vamos investigar o seu filho que a gente resolve esse problema. Desvio mata, frase não mata”, disse Bolsonaro, sem mencionar o nome do emedebista, pai do governador de Alagoas, Renan Filho.

A declaração logo reverberou na CPI. Renan pediu a palavra e rebateu. “Eu queria com a permissão dos senhores dizer, com todo respeito ao presidente, que o que mata é a pandemia pela inação e inépcia que eu torço que não seja dele, porque nós não queremos fulanizar isso aqui”, disse o senador.

Na “live”, Bolsonaro defendeu que o Congresso aprove a proposta de emenda constitucional (PEC) do voto impresso e disse que país é único país que aceita o voto eletrônico. Ele rebateu crítica do presidente do tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de aprovação de voto impresso criaria “caos” e “judicialização” do resultado eleitoral.

“Ele é o dono do mundo o Barroso? Não pode ser contestado: Ninguém aceita mais esse voto que está aí. Única republiqueta do mundo é a nossa que aceita esse voto eletrônico. Isso tem que ser mudado”, disse Bolsonaro, durante a “live” em suas redes. “Se o parlamento aprovar e promulgar, vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Se não tiver voto impresso, não vai ter eleição. O recado está dado”, completou. (Colaborou Renan Truffi)