Título: o começo da virada
Autor: Sérgio Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 29/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

Uma das prioridades do governo Lula tem sido apoiar a reativação do setor naval brasileiro. Este compromisso recebeu grande impulso há poucos dias, quando a Transpetro deu início ao processo de licitação da maior encomenda de navios já realizada no Brasil. A pré-qualificação dos interessados em construir os 42 navios-petroleiros encomendados pela Transpetro contou com a participação de 28 grandes empresas, reunidas em 11 consórcios. Dos cinco maiores estaleiros do mundo, quatro apresentaram propostas. A licitação é uma conquista extraordinária do Governo Lula, que venceu resistências e adversidades de toda ordem para tornar possível o renascimento do setor naval.

O programa de encomendas da Transpetro reafirma, acima de tudo, o compromisso e o engajamento com o desenvolvimento econômico do País. A encomenda é uma necessidade emergencial, e com ela também se colabora de forma decisiva para revitalizar um segmento de imensa relevância estratégica e social.

Para que se tenha idéia, a Transpetro vai investir cerca de US$ 1,9 bilhão na aquisição de 42 navios. O programa terá duas fases de encomendas. Na primeira, o objetivo é modernizar a frota e repor navios que serão alienados nos próximos seis anos. Serão construídos então 22 petroleiros. A previsão é de que o primeiro desses novos navios esteja no mar já em 2006. A encomenda será responsável pela geração de mais de 20 mil novos empregos nesta primeira etapa. A segunda fase do programa marcará a expansão da frota, com encomenda de outros 20 petroleiros. Todas as embarcações serão fabricadas no Brasil e pelo menos 65% de seus componentes serão nacionais. É uma oportunidade única para viabilizar investimentos nos diversos segmentos que integram a cadeia produtiva da indústria naval.

A licitação em curso rompe definitivamente com o círculo vicioso responsável pela paralisação do setor naval. Os estaleiros brasileiros não se modernizavam porque não havia encomendas, e as encomendas não se materializavam porque os estaleiros careciam de atualização. Para que se tenha idéia, a Transpetro responde hoje por apenas 17% da demanda da Petrobras. A companhia afreta, por isso, em torno de 60 navios de armadores estrangeiros para atender à necessidade de transporte de seus produtos. Desde 1988 a companhia não contrata a construção de novos petroleiros, e há pelo menos seis anos não há emprego para o trabalhador brasileiro na construção de um grande navio. A constatação se torna ainda mais dramática quando se sabe que a carteira dos estaleiros em todo o mundo contabiliza hoje mais de 4 mil embarcações.

O Brasil não podia continuar à margem deste mercado tão importante do ponto de vista estratégico. O programa de encomendas da Transpetro permitirá que a Petrobras recupere e amplie sua capacidade própria de transporte marítimo. O Brasil deixará, com isso, de remeter anualmente mais de US$ 10 bilhões para o exterior a título de pagamento de transporte. Os armadores brasileiros serão amplamente beneficiados, e poderão recuperar participação de mercado inclusive no transporte de mercadorias entre portos do País. Atualmente, a cabotagem é amplamente dominada por concorrentes estrangeiros.

A revitalização da indústria naval é uma demanda de mais de duas décadas. A Petrobras e a Transpetro colocam agora ponto final em uma estagnação tão prejudicial à economia do País. Muito breve, a indústria naval recuperará a competitividade perdida e estará capacitada a disputar mercados no exterior. Nunca é demais lembrar que a construção naval brasileira foi a segunda maior do mundo na década de 70. Ela empregava 40 mil pessoas e exportava para países como Inglaterra, França, Alemanha, Grécia e Estados Unidos.

Agora as amarras estão rompidas, as âncoras estão levantadas. O Brasil finalmente tem tudo para reassumir o lugar que merece no cenário internacional em segmento tão importante. O sucesso da pré-qualificação comprova o acerto da modelagem adotada. Também revela o êxito do Governo em mobilizar e despertar o interesse da classe empresarial, no Brasil e no exterior, para a relevância da licitação em curso. O Governo Lula está fazendo a sua parte. Ele tem uma rota a cumprir, da qual não pretende se desviar. O que a Transpetro deseja é contribuir com o surgimento de um setor naval de construção de grandes embarcações mais moderno e competitivo no Brasil.