Título: BNDES negocia dívida de agricultores
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 29/03/2005, Economia & Negócios, p. A20

Agricultores afetados pela seca no Sul conseguiram um ano a mais para pagar investimentos em tratores, colheitadeiras e projetos voltados para solo, pasto, armazéns, fruticultura, tratores e floricultura, entre outros. Já quem se endividou para investir em máquinas e equipamentos agrícolas terá de aguardar mais um pouco. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve decidir hoje se aceita o alongamento de cerca de R$ 1,5 bilhão em dívidas de agricultores que tomaram empréstimos da instituição no âmbito do programa Finame Agrícola Especial (para bens de capital agrícolas), linha sem equalização de juros pelo Tesouro Nacional.

Outros programas do banco de fomento, principalmente o Moderfrota, com taxas baixas compensadas pelos cofres da União, já têm ordem do BNDES para a revisão de prazos. A medida visa compensar agricultores afetados por fatores climáticos, sobretudo os produtores afetados pela seca na região Sul. Pleito do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o alongamento abrange até então cerca de R$ 2 bilhões, podendo chegar a R$ 3,5 bilhões após decisão da diretoria do banco, com reunião marcada para esta tarde.

Na quinta-feira passada, o BNDES enviou carta aos agentes repassadores solicitando o prolongamento do prazo da dívida de agricultores que tomaram recursos do Programa da Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Complementos e Implementos Associados e Colheitadeiras. Chamado de Moderfrota, o programa oferece taxas fixas de 9,75% ao ano para clientes com receita de até R$ 150 mil, e 12,75% ao ano para empresas com faturamento superior a este valor. Outra linha do Finame Agrícola, o Finame Agrícola Especial - destinado a máquinas e equipamentos - estipula taxa de 13,95%.

O Tesouro garante a cobertura da diferença entre o custo de captação e o oferecido pelo BNDES a seus clientes somente no caso do Moderfrota. Como no segundo caso isso ocorre, o alongamento das dívidas ainda não foi aprovado pelo banco.

O Finame Agrícola - ''mãe'' de todos o programas no setor - desembolsou no ano passado R$ 4,5 bilhões, dos quais R$ 2,360 bilhões foram no âmbito do Moderfrota e outros R$ 1,927 bilhões compuseram a carteira da linha especial voltada somente para máquinas e equipamentos.

Já o custeio da compra de sementes e insumos para a safra de verão será renegociado diretamente com o Banco do Brasil, de acordo com o ministro da Agricultura. Nesse caso, serão beneficiados pela medida os agricultores dos municípios onde a produção caiu mais de 50%. As condições propostas pelo banco permitirão que os agricultores paguem 20% do total da dívida, renegociando o restante no prazo de três a cinco anos.

O ministro informou estar também negociando a alocação de recursos do Orçamento para a aquisição de produtos, leilões e escoamento de produção. O objetivo é tirar a pressão de venda dos estados produtores, aliviando, assim, a comercialização dos produtos que tiveram safra recorde.

A quebra na safra de soja do Rio Grande do Sul será de, no mínimo, 61,04%, índice divulgado pela Emater no último dia 10 (última informação disponível). Especialistas dizem, porém, que a perda poderá ser superior a 70%.

No caso do milho - a segunda cultura mais atingida - os últimos dados sobre a quebra na safra são de 54,95%. No do arroz (segundo dados do dia 10), a quebra foi de 12,51%.

Com Folhapress