Correio Braziliense, n. 21339, 18/08/2021. Política, p. 2

Na Câmara, Braga Netto baixa o tom
Jorge Vasconcellos
18/08/2021



O ministro da Defesa, Braga Netto, negou, em audiência na Câmara, que tenha enviado ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor, um aviso de que as eleições de 2022 não ocorreriam sem que o Congresso aprovasse a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso — o texto foi rejeitado pelos deputados em votação plenária na semana passada. O general atribuiu essa informação à necessidade da imprensa de "vender notícia".

Braga Netto abordou o assunto ontem, durante audiência conjunta de três comissões da Câmara — Fiscalização Financeira e Controle; Relações Exteriores e Defesa Nacional; Trabalho, Administração e Serviço Público. O ministro foi ouvido como convidado para prestar esclarecimentos sobre fatos, declarações e notas oficiais do Ministério da Defesa, interpretados pelos parlamentares como ataques ao Estado democrático de direito.

Sobre a notícia da suposta ameaça às eleições, o militar fez críticas à imprensa. "É uma série de ilações de interpretações equivocadas que nós vemos, particularmente por parte da mídia. Eu entendo que ela quer vender notícia e ela transforma, às vezes, a notícia ou põe uma meia verdade. E, aí, isso começa a se espalhar", enfatizou, em referência à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, de 22 de julho. Segundo o veículo de imprensa, Braga Netto, ao lado dos três comandantes militares, enviou a Arthur Lira, por meio de um interlocutor, a ameaça contra as eleições.

"Reitero que eu não enviei ameaça alguma. Não me comunico com presidentes de Poderes, por intermédio de interlocutores. No mesmo dia, ainda pela manhã, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, confirmou publicamente que não houve esse episódio", disse Braga Netto. "Considero esse assunto resolvido, esclarecido e encerrado." Ao contrário dessa afirmação, porém, Lira não negou nem confirmou publicamente a informação divulgada pelo jornal.

O ministro negou, ainda, que o desfile de blindados e tanques na Esplanada dos Ministérios, realizado no último dia 10, tenha sido uma tentativa de intimidar o Congresso, onde, horas depois, a Câmara viria a votar a PEC do voto impresso. Braga Neto afirmou que o desfile militar já estava programado com bastante antecedência, sem qualquer conotação de ameaça ou de intimidação.

Braga Netto respondeu de maneira enigmática quando deputados de oposição perguntaram se está programado um golpe militar para o próximo 7 de setembro, como anunciou o cantor bolsonarista Sérgio Reis, em um áudio vazado no domingo. "Se eu digo para o senhor que nós trabalhamos dentro da Constituição, a pergunta já está respondida. Cabe ao senhor o entendimento", frisou o general, acrescentando que ele e os comandantes militares têm sido orientados nesse sentido por Bolsonaro.

O ministro também voltou a criticar as declarações do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), sobre o envolvimento "do lado podre das Forças Armadas com falcatrua dentro do governo". "Não consideramos correto que sejam feitos prejulgamentos se referindo à participação de militares em supostas falcatruas, de forma generalizada e apenas com base em suspeitas e ilações, sem a necessária comprovação material e sem a observância do devido processo legal", argumentou. "Essa atitude vai de encontro a preceitos do Estado democrático de direito, que tanto prezamos e defendemos."