Correio Braziliense, n. 21340, 19/08/2021.Política, p. 5

Barros investigado na CPI
Augusto Fernandes
19/08/2021



Relator da comissão põe líder do governo na condição de suspeito por indícios de ilegalidades na compra de vacinas contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde. Nome do deputado veio à tona na conversa que os irmãos Miranda tiveram com Bolsonaro sobre a Covaxin

O deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, passou a ser investigado formalmente pela CPI da Covid. Relator do colegiado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) tomou a decisão por conta dos indícios de participação do parlamentar em esquemas de corrupção na aquisição de vacinas contra o novo coronavírus pelo Ministério da Saúde.

Barros estaria envolvido no esquema do contrato bilionário assinado pelo governo federal para a compra da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. Em fevereiro, o governo fechou um acordo de R$ 1,6 bilhão para comprar 20 milhões de doses da vacina. Cada aplicação foi vendida a R$ 80,70, tornando o imunizante um dos mais caros negociados pelo Ministério da Saúde nesta pandemia.

O parlamentar entrou na mira da CPI por causa do depoimento ao colegiado do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, Luis Ricardo, chefe de importação do Departamento de Logística do ministério, que alertaram que a compra da Covaxin seria parte de um esquema de corrupção. Ao avisarem ao presidente Jair Bolsonaro sobre as suspeitas de irregularidades, o chefe do Executivo disse que seria "mais um rolo" do líder governista.

A CPI ainda suspeita do envolvimento de Barros na compra da vacina chinesa Convidecia, produzida pelo laboratório CanSino. O governo negociou a aquisição de 60 milhões de doses do imunizante, e o ministério chegou a assinar um contrato de intenção de compra, no valor de R$ 5 bilhões, no início de maio. Cada aplicação custaria US$ 17, valor mais elevado do que o de outros fármacos adquiridos pelo governo.

A contratação era intermediada pela Belcher Farmacêutica, que teve o contrato rompido unilateralmente, por decisão do CanSino. A empresa tem sede em Maringá (PR), onde Barros foi prefeito. A informação coletada pela CPI é de que um dos sócios da Belcher é filho de um empresário ligado ao deputado.

Relacionamentos

Diante dessas informações, Calheiros ponderou que "é necessário apurar de maneira aprofundada os atos do líder do governo Bolsonaro, suas relações e ligações políticas e empresariais, bem como na ausência de atitudes corretivas, especialmente, nas negociações e possíveis associações com servidores civis e militares do Ministério da Saúde investigados pela comissão".

Segundo o senador, pelo "conjunto da obra" há "óbvios indícios de sua participação nessa rede criminosa que tentava vender vacina através de atravessadores, comprometendo, muitas vezes, setores da sua própria família e fazendo com que o país perdesse oportunidade de comprar vacinas na hora certa, vacinas que salvariam vidas".

O relator ainda citou a proximidade de Barros com o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias (exonerado em junho após a denúncia de que teria pedido propina para autorizar a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal e suspeito de chefiar um suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares e servidores da pasta) e de Francisco Maximiano (sócio-proprietário da Precisa Medicamentos, que intermediou a compra da Covaxin) para justificar a investigação contra o deputado.

Ao tomar conhecimento da decisão da CPI, Barros não escondeu a irritação. Em uma rede social, escreveu: "CPI interrompe o meu depoimento, anuncia que sou investigado e que não pretende mais me ouvir. Não suportam a verdade e usam táticas covardes de vazamento. Minha conduta parlamentar é exemplar. Nada encontrarão. Agora, meus advogados conduzirão o relacionamento com a CPI".

Em entrevista ao portal UOL, o deputado garantiu estar tranquilo. "Covardia deles. Eu estava lá, era só me perguntar. Tudo que me foi perguntado, esclareci com documentos. Então, quando ele (Calheiros) repete as mesmas coisas que esclareci à CPI, documentalmente, provando que não tenho envolvimento e me diz que estou sendo investigado pelo conjunto da obra, qual é o conjunto da obra? Não tem nenhum fato para imputar a mim", reclamou.