Correio Braziliense, n 20613, 30/10/2019. Política, p. 3

US$ 10 bilhões para projetos



Na véspera de retornar ao Brasil após a viagem mais longa ao exterior desde que assumiu o Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro fechou o principal acordo do périplo à Ásia e ao Oriente Médio com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. O país vai investir US$ 10 bilhões (R$ 40 bilhões) do seu fundo soberano no Brasil. Ainda não foi definido em quais setores os recursos serão aplicados.

Por meio de comunicado oficial, a Presidência da República informou que Bolsonaro e Mohammed bin Salman “discutiram perspectivas para o fortalecimento de investimentos bilaterais entre o Brasil e a Arábia Saudita” e que “os dois lados expressara apoio à concordância do Fundo de Investimento Público saudita em explorar potenciais oportunidades de investimentos mutuamente benéficos”.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que acompanha Bolsonaro na viagem, explicou que os dois países vão instituir um conselho de cooperação para solucionar as questões pendentes e dar fluidez na aplicação dos recursos do fundo. Onyx espera que o dinheiro possa ser usado já a partir de 2020, principalmente nos programas da carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

“No ano que vem, o PPI tem um conjunto muito grande de ofertas, quer na área de óleo e gás, quer na área de portos e aeroportos, rodovias e ferrovias. Temos, por exemplo, grande interesse na Ferrogrão, do Mato Grosso ao Pará, importantíssima para o Brasil. São praticamente mil quilômetros de ferrovia, com um custo de mais de US$ 3 bilhões”, comentou Onyx.

Durante a visita, a Brasil Foods (BRF), donas das marcas Perdigão e Sadia, anunciou que vai investir US$ 120 milhões em uma nova unidade na Arábia Saudita para processamento de produtos de frango, incluindo empanados, marinados, hambúrgueres e outros. Além de servir ao mercado saudita, os produtos também poderão ser exportados para outros países na região.

Tarde com o príncipe

Antes de firmar o acordo, Bolsonaro enalteceu a figura do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, ao dizer que tem “certa afinidade” com ele e ainda garantiu: “Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje (ontem)”.

A Arábia Saudita é um dos países mais conservadores do mundo e mantém leis que restringem a liberdade das mulheres. Elas são mantidas sob o controle de um “tutor masculino”, que pode ser o pai, o marido, irmãos ou mesmo filhos, e devem obter permissão do familiar masculino mais próximo para estudar ou para se casar.

Em agosto último, o governo autorizou reformas para tentar mudar a imagem negativa do país. Às mulheres foi permitido obter passaporte e viajar ao exterior sem o consentimento prévio do tutor. Além disso, as restrições impostas ao trabalho das mulheres foram abrandadas.

Recentemente, Mohammed bin Salman assumiu “total responsabilidade” pela morte do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, no consulado saudita em Istambul (Turquia), mas negou ter dado a ordem para que ele fosse morto. (AF)