Título: Crescimento econômico
Autor: Paulo Tarso Resende*
Fonte: Jornal do Brasil, 26/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

A discussão sobre os arranjos produtivos e a participação pública no fomento do crescimento econômico regional tem tomado proporção significativa, principalmente no que se refere às pequenas e médias empresas, que poderiam se inserir nas grandes cadeias produtivas. No entanto, poucas experiências, inclusive as advindas de outros países, foram bem-sucedidas no aproveitamento do conceito de ¿arranjos produtivos¿ para a expansão do bloco produtivo nas regiões analisadas. Parece que no Brasil os governos estaduais, juntamente com algumas instituições representativas do comércio e da indústria, caminham mais na direção de uma boa intenção do que de um resultado prático. É que os projetos têm sido desenvolvidos sem uma base consolidada de estudo sobre economia e espaço, fatores-chave para o sucesso das iniciativas.

Toda e qualquer cadeia produtiva pode ser visualizada e analisada por um conceito muito simples, contido no modelo de transformação. Ou seja, matérias-primas e insumos passam por transformações de valor, até que atinjam o formato de produto intermediário ou acabado, que se caracteriza pela satisfação dos potenciais clientes, com uma percepção dos benefícios. Essa teoria é chamada de ¿adição de valor nos processos produtivos¿, o que equivale dizer que cada atividade, bem como suas interfaces nos processos de produção, tem de ser vista como elemento fundamental de formação de valor, do ponto de vista de quem terá a propriedade do que está sendo produzido. Compra-se um produto mais caro pelo fato de ele se aproximar mais daquilo que é valor para o cliente, ou para o consumidor final, do que a soma de todas as parcelas de insumos e matérias-primas que formaram o produto.

Quando o tema do valor para o cliente é colocado na arena dos arranjos produtivos, e quando essa combinação é relacionada a projetos brasileiros, percebe-se a distância existente entre o desejado e o realizado. Primeiramente, a aglomeração espacial dos elementos das cadeias produtivas tem de resultar da presença de um elemento propulsor. Isto é, elementos de um arranjo produtivo se concentram em torno de um centro de gravidade, nesse caso um outro elemento ou grupo de elementos da cadeia produtiva.

Quando os projetos acontecem, não existe uma análise detalhada das características do elemento propulsor. A bem da verdade, em diversas ocasiões toma-se como base o potencial de uma região e constrói-se o projeto de arranjo sem detalhamento técnico mais aprofundado. Ou seja, há uma suposição do potencial e da aplicação do conceito por meio de um projeto - e isso é completamente errado.

Segundo, nem sempre uma região que se apresenta com potencial para o desenvolvimento de projetos de arranjos produtivos pode garantir sucesso. É necessário analisar as características de escala, escopo, aprendizagem e especialização dos elementos já instalados e a viabilidade de atração de elementos ainda inexistentes. Se essas características não forem analisadas, fica difícil e arrastado o processo de formação de redes produtivas, fundamento dos arranjos.

Formam-se rapidamente os arranjos se a integração de redes de suprimento, produção, distribuição e capacitação for uma constante. Caso contrário, os elementos mais produtivos se cansam e acabam movendo-se na direção das regiões mais atraentes, mesmo que a atração se faça por incentivos públicos artificiais, como os incentivos fiscais.

Levando em consideração a definição mais apropriada de arranjos produtivos como ¿aglomerações espaciais de elementos econômicos, políticos, sociais e ambientais, alinhados no caminho de uma atividade econômica específica¿, percebemos que a vontade de apenas um desses elementos não é capaz de levar ao sucesso do arranjo. Ou seja, vontade política não basta para que um projeto alcance plena realização.

É preciso que todos os elementos estejam integrados e alinhados com objetivos estratégicos de competitividade sustentada.

Senão, além do fracasso, criaremos expectativas de recursos financeiros fáceis, esquecendo o propósito principal: a diferenciação competitiva pela inserção de elementos produtivos em redes integradas.

O conceito de arranjo produtivo é moderno, tem potenciais de resultados incontestáveis e de efeitos muito positivos para a sociedade e para a inserção consolidada de fornecedores e mão-de-obra locais em grandes cadeias produtivas. No entanto, o cuidado deve ser constante para que os projetos não caiam na cabeça de quem os produz.

Nesse ponto, reafirma-se a necessidade de estudos aprofundados que contenham parâmetros econômicos robustos, com cenários bem formatados e a participação dos diversos agentes que vão compor o arranjo produtivo. Não se deve cometer o erro maior de considerar que é suficiente apenas o conhecimento teórico para realizar os projetos, sem que se dê ouvidos às bases.

*Ph.D., professor de Logística e Cadeias de Suprimento da Fundação Dom Cabral.