Título: Residência médica de hospitais do DF vira campo de batalha
Autor: MELlSSA MEDEIROS
Fonte: Jornal do Brasil, 26/03/2005, Brasília, p. D5
Comissão do MEC vistoria condições dos cursos na rede pública, que podem até ser fechados
As residências médicas dos oito hospitais públicos do Distrito Federal foram vistoriadas nos últimos dias pela Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação (CNRM), receberam visitas do novo Secretário de Saúde e viraram o foco de discussões na tentativa de reabrir o curso de Cardiologia no Hospital de Base de Brasília (HBB). Em dezembro de 2004, levantamento do ME C constatou pro blemas que começam na falta de profissionais para orientar os trabalhos e passam pela carência de remédios e de equipamentos para chegar até o monitoramento dos residentes pelos médicos especialistas. Em conseqüência, as 77 especializações dos hospitais regionais da Asa Norte, Asa Sul, Ceilândia, Gama, Sobradinho, Taguatinga, Hospital de Base de Brasília e São Vicente de Paula ficaram de sobreaviso por três meses. Como os pro blemas não foram resolvidos, as residências correm risco de perderem o credenciamento. Esta semana começaram as vistorias da CNRM para averiguar a real situação das residências e decidir a manutenção ou suspensão das residências médicas nessas instituições. Caso sejam descredenciadas, apenas o Hospital Universitário de Brasília (HUB) passa a oferecer o serviço, Nitalpara a formação de profissionais da Saúde. A primeira vistoria ocorreu nos 31 programas de residências do HBB e a comissão divulga uma radiografia dos programas na próxima terçafeira. Mas a decisão sobre eventual descredenciamento só sai no dia 21 de abril. Durante a visita da CNRM, os médicos residentes expuseram as dificuldades enfrentadas. Os nove representantes das principais entidades médicas brasileiras, nomeados CNRM, ouviram os médicos estudantes, verificaram suas atividades na prática e inspecionaram a estrutura do local. - Mostramos à comissão que os esforços da equipe médica e dos residentes estar sem pro blemas estruturais - afirma o presidente da Associação Brasiliense de Residência Médica, André Meireles, residente do 40 ano de N eurocirurgia no HBB. Ele não quis Estar os programas que sofrem mais risco de perder o credenciamento, mas acredita que a comissão vai fazer uma análise justa e que, a partir disso, a situação deva melhorar. - É muito óbvio que a Cardiologia do HBB, por exemplo, não tem condições de funcionar. Mas podemos encontrar, por exemplo, a residên. cia em Psiquiatria do Hospital São Vicente que tem um bom trabalho. O que espero é que a Secrétaria honre o compromisso de atender as exigências da comissão e que o MEC ceda um pouco no prazo para nova vistoria - disse André Meireles. Desde sua posse na última quinta-feira, o novo secretário de Saúde do DF, José Geraldo Maciel, está tomando conhecimento da situação das residências para tentar reverter o descredenciamen. to da cardiologia do HBB e conseguir manter as demais. - Vamos aguardar o relatório da comissão para termos ciência dos problemas e providenciarmos as soluções de modo imediato prométe o secretário. Sobre a residência em cardiologia do HBB, Maciel disse que, na próxima semana, começam a ser sanadas as defiéiências e que vai tentar negociar com o MEOum prazo menor para nova vistoria. O dirétor-executivo da CNRM, Antônio Carlos Lopes, não quis falar sobre a fiscalização no HBB. Sobre a formação especializada em Cardiologia, éle disse que a residência deveria atender condi. ções mínimas e isso não acontecia no HBB. Portanto, só em 2007 poderá ter novo credenciamento. Nos dias 7 a 9 de abril, a CNRM vistoria os outros sete hospis públicos que oferencwem residência.
Complemento:
No HUB a prioridade vai para o aprendizado
O Hospital Universitário de Brasília (HUB) vai ser o único hospital público no DF a oferecer residência médi - ca, caso os outros oito hospitais sejam descredendados. Há também a possibilidade de abrir residências no Instituto do Coração (Incor). Com 22 programas de especialização, o HUB não corre ris. co de perder suas pós-graduações. Segundo a diretora ad. junta de ensino e pesquisa, Marilúcia Picanço, a residên. cia médica no DF vem sendo, na prática, oferecida de dois modos: ou se considera o aprendizado como prioridade - com orientação direta dos alunos nos trabalhos de atendi. mento aos pacientes-ou se trata o residente como mão de obra, clinicando sem orientação contínua. - No HUB o residente trabalha ao lado do professor orientador'e há a preocupação de garantia dos mínimos recursos - afirma Marilda. Ela ressalta que a instituição também enfrenta dificuldades, como falta de medicamentos e material cirúrgico. Mas, quando há queixas dosresidéntes à equipe, a diretoria do hospital se mobiliza. O Instituto do Coração está com estrutura montada, profissionais espeCialistas e já foi autorizado pelo Ministério da Educação a ter residência de Cardiologia ~ especialidade sem formação em Brasília depois que o HBB foi descredenciado. Os trabalhos no Incor ainda não começaram porque o hospital espera autorização da Secretaria de Saúde para poder atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O presidente da Associação Brasiliense de Residência Médica, André Meireles, disse que o Instituto do Coração já deveria está oferecehdo residência médica. - Os residentes de cardiologia vão ter que ir para outros estados. Isso seria resolvido com a liberação do Incor -diz. O secretário de Saúde afiro mou não ter conhecimento desse problema, mas prome teu delegar um especialista para resolver a questão. Maciel considera que a liberação do Incor pode ser uma medida emergencial, mas ressalta que não vai desistir de tentar fazer.