O Estado de São Paulo, n. 46535, 15/03/2021. Política. p.A6

Bolsonaristas fazem protestos contra o isolamento social

Daniel Teixeira

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizaram atos públicos ontem para cobrar governadores que têm determinado medidas mais duras de isolamento social por causa do aumento de casos de covid-19, criticar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), defender o porte de armas e pedir intervenção militar. Foram registradas manifestações em ao menos oito capitais – São Paulo, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Campo Grande, Vitória e Belém. Bolsonaro publicou vídeo de um dos atos em suas redes sociais.

Na capital federal, centenas de apoiadores do presidente se reuniram em frente à Esplanada dos Ministérios e organizaram uma carreata. Desde a semana passada, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), impôs um lockdown, na tentativa de barrar o crescimento do contágio e óbitos por covid-19. A carreata se concentrou no Museu Nacional e seguiu em direção ao Congresso. Os manifestantes gritavam palavras de ordem com críticas a ministros do Supremo. Em um cartaz, pediam "intervenção militar", o que é inconstitucional.

A Polícia Militar do DF impediu que um carro de som estacionasse em frente ao Congresso, para evitar aglomerações. Os organizadores do ato, por diversas vezes, orientaram os manifestantes a usarem máscara de proteção individual. Recém-empossada como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) compartilhou em suas redes sociais um vídeo da carreata.

A presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara, deputada Carla Zambelli (PSLSP), foi uma das aliadas de Bolsonaro a convocar manifestantes para carreatas nas capitais. Em São Paulo, a manifestação seguiu do Parque do Ibirapuera até a Avenida Paulista. Assim como em Brasília, manifestantes exibiam cartazes pedindo intervenção militar "com Bolsonaro no poder". Na capital paulista, a pauta ainda incluiu manifestações pró-armamentos, pelo fim do lockdown e de "Fora Doria" – o governador João Doria (PSDB) tem sido um dos principais antagonistas de Bolsonaro nas medidas de contenção à disseminação do coronavírus.

No Rio, um carro de som exibiu uma placa de rua com o nome do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Era uma alusão à placa da vereadora do PSOL, Marielle Franco – cujo assassinato completou três anos ontem – que o político quebrou durante sua campanha eleitoral. A manifestação ocupou trecho da Avenida Atlântica, em Copacabana.

Os manifestantes, em sua maioria sem máscaras ou usando o equipamento de forma errada, gritavam palavras de ordem como "Supremo é o povo", "não vai ter golpe", "queremos trabalhar" e "não ao lockdown".

Em Belém, o deputado Éder Mauro (PSD-PA) participou de uma manifestação, onde foi fotografado sem máscara em meio a uma aglomeração de pessoas. Ele não foi localizado até a conclusão desta edição.

Em Vitória (ES), manifestantes contrários a medidas de distanciamento social fizeram protesto em frente à casa da mãe do governador Renato Casagrande, Anna Venturim Casagrande, de 88 anos. A informação foi divulgada pelo governador em suas redes sociais, onde ele defendeu que, embora o direito a manifestação seja legítimo, a escolha do local foi "inaceitável", já que se trata de uma idosa com diversas comorbidades.

O protesto foi liderado pelo deputado estadual bolsonarista Capitão Assumção (Patriota), que transmitiu ao vivo em sua conta no Instagram a chegada da carreata até a casa de Anna e circulou pelo local sem máscara ao lado de outros manifestantes. De acordo com a assessoria de imprensa de Casagrande, não houve adoção recente de medidas mais restritivas.

 

Missa sem máscara. Bolsonaro esteve em uma missa no Mosteiro de São Bento, no Lago Sul em Brasília, ontem pela manhã. O presidente, acompanhado do filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-rj), do secretário de Assuntos Fundiários da Presidência, Luiz Antonio Nabhan Garcia, e do jornalista Alexandre Garcia, estava sem máscara de proteção sobre o rosto, o que contraria as determinações do governo do Distrito Federal desde o ano passado. O decreto atual, porém, não proíbe a realização de eventos religiosos. / EDUARDO RODRIGUES, DIDA SAMPAIO e PAULA REVERBEL