Correio Braziliense, n. 20608, 25/10/2019. Política, p. 3

Passe livre para os chineses no Brasil

Augusto Fernandes
Ingrid Soares 


O presidente Jair Bolsonaro vai isentar turistas e empresários chineses da obrigatoriedade de obter visto para ingressar no Brasil. Ele anunciou a iniciativa ontem, em Pequim, onde se reuniu com executivos de companhias locais de varejo, infraestrutura, aviação e outros setores. Mas, a princípio, não haverá reciprocidade por parte da China, o que representa dizer que brasileiros que quiserem ir a negócios ou a passeio para aquele país continuarão precisando de visto.

Em março, Bolsonaro já havia facilitado os requisitos para que cidadãos dos Estados Unidos, do Canadá, do Japão e da Austrália ingressem no país. Esta lista pode se ampliar com a isenção para os cidadãos da Índia. “Vamos o mais rápido possível, seguindo a legislação, isentar turista chinês de visto para adentrar o Brasil. Pretendemos também fazer a mesma coisa com a Índia”, declarou o presidente.

Bolsonaro comentou que o governo espera aumentar o fluxo de turistas chineses com a alteração e, por consequência, o aumento da contribuição do turismo no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. De acordo com estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, publicado em março, o setor foi responsável por 8,1% (US$ 152,5 bilhões) da produtividade da economia do Brasil no ano passado.

“Queremos chegar a pelo menos 10% do PIB. Hoje acho que é de apenas 6%”, estimou Bolsonaro, equivocando-se quanto à participação do turismo no PIB.

Apesar de a China figurar como o principal parceiro comercial do Brasil — entre janeiro e setembro deste ano o intercâmbio comercial entre os dois países somou US$ 72,8 bilhões —, a procura dos chineses por viagens de turismo ao Brasil registrou queda no último ano. Em 2018, de acordo com números do Instituto de Pesquisa de Turismo de Saída da China, 56 mil chineses visitaram o país, 8% a menos do que o registrado em 2017 — pouco mais de 51,2 mil pessoas.

Alguns problemas que o governo terá de resolver caso queira abrir as portas para mais cidadãos da nação asiática dizem respeito às condições de hospitalidade. Boletim divulgado em junho deste ano pelo Ministério do Turismo aponta que, de todos os turistas que visitam o país, os da China apresentam a menor intenção de retornar ao Brasil, e declararam não estar satisfeitos com os preços dos produtos comercializados aqui.

O presidente e sua equipe estimam que a medida tem tudo para funcionar, mesmo que unilateralmente. “Não necessariamente (haverá reciprocidade). A questão é atrair o turista chinês. Vamos ver quais as maneiras de fazer isso, os passos até lá”, explicou o chanceler Ernesto Araújo.

Longe da briga

Ao desembarcar em Pequim, Bolsonaro afirmou estar em um “país capitalista”, ao responder a perguntas de jornalistas sobre estar em solo comunista, sistema permanentemente criticado por ele. O presidente disse também que o Brasil pretende se manter distante da guerra comercial entre EUA e China, aberta por Donald Trump.

“Não é uma briga nossa. Queremos uma inserção sem ideologia na economia mundial, para promover o desenvolvimento nacional”, garantiu, acrescentando que pretende negociar investimentos para o setor energético com os chineses.

“Muitos criticam as privatizações. Arrebentaram com as estatais. Conseguiram quase quebrar uma petroleira (em referência a Petrobras). Nós estamos numa situação em que não tem mais alternativa. O sistema energético — nós não temos o suficiente para investir para que ele não entre em colapso brevemente”.