Título: Parlamentares comemoram decisão
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 01/04/2005, País, p. A3

A decisão do governo de editar uma nova medida provisória, revogando a MP 232 e mantendo apenas a correção em 10% da tabela do Imposto de Renda, foi comemorada ontem no Congresso. A análise, contudo, separou governistas e parlamentares da oposição. Para os aliados, o Planalto acertou, mantendo a parte positiva da MP e transferindo para um projeto de lei posterior as normas de combate à sonegação e elisão fiscal. Para tucanos e pefelistas, foi uma derrota fragorosa do Executivo, que editou nova MP por falta de força para aprovar a proposta original.

- Foi melhor assim. Mas fico triste porque, mais uma vez, o governo demonstrou não ter respeito pelo poder legislativo - reclamou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Para o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), um dos principais defensores da derrota da MP 232, o governo acabou se curvando ao bom senso ao atender a um apelo da sociedade. Severino acredita que o Planalto demonstrou estar administrando o país de acordo com a vontade da população. Chegou a classificar a nova estratégia como uma derrota, mas depois mudou de idéia.

- Foi um recuo que não é recuo. Na verdade, acho até que foi um passo muito acertado da Presidência ao consertar algo que estava errado.

Os aliados comemoraram, sobretudo, a possibilidade de influir nas decisões do governo. Votaram unidos, assumiram o desgaste e conseguiram, segundo eles, convencer o Executivo a recuar da taxação dos prestadores

- Era nítido que havia problemas políticos para votar a MP original. Graças aos sinais dados pelos aliados, o governo editou uma nova MP apenas com a parte boa - celebrou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande.

Um petista enumerou a sucessão de equívocos cometidos durante a discussão da MP. O primeiro foi a incapacidade de faturar politicamente com uma medida positiva - a correção da tabela do IR - ao incluir na MP medidas antipáticas como o aumento dos impostos; depois, esperou três meses para discutir a matéria, deixando que a oposição e os empresários criticassem dia e noite a iniciativa; por fim, curvou-se à esquizofrenia de obstruir a votação de uma proposta apresentada pelo Planalto.