Correio Braziliense, n. 20608, 25/10/2019. Política, p. 3

Presidente evita falar de Queiroz



O presidente Jair Bolsonaro evitou comentar, durante contato com jornalistas, em Pequim, sobre o áudio divulgado ontem pelo jornal O Globo, com uma conversa atrtibuída ao ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e amigo da família. Na gravação, a voz dá a entender que ainda tem alguma proximidade com o parlamentar, quando diz a um interlocutor que deputados e senadores “fazem fila” no gabinete para tratar de indicações.

O presidente disse que não tinha relacionamento com Queiroz e pediu que os jornalistas focassem em assuntos de interesse do país, “para não acabar a entrevista”. “Não sei dessa informação. Por favor, por favor. O Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha. Minha preocupação aqui, para não acabar a entrevista com vocês, é tratar questões que envolvem interesses de todos nós brasileiros. Quando esse áudio veio à tona? Não sei, desconheço. Não falo com o Queiroz desde quando aconteceu esse problema”.

Fabrício Queiroz é suspeito de administrar, durante o período em que trabalhou para Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), entre 2007 e 2018, a chamada “rachadinha” — que é a devolução de parte do salário que o funcionário lotado no gabinete faz para o caixa do parlamentar.

“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado. Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles em nada. Vinte continho (sic) pra gente caía bem pra caramba. Não precisa vincular ao nome. (...) O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores lá, pessoal pra conversar com ele. Faz fila. É só chegar, meu irmão, nomeia fulano para trabalhar contigo aí, salariozinho bom desse aí. Pra gente que é pai de família (...), cai igual a uma uva”, diz Queiroz na conversa.

O ex-líder do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir (GO), vê o vazamento do áudio como uma revelação grave e uma prova de que o esquema em nenhum momento foi interrompido.

“É um áudio extremamente importante, que mostra que o braço direito do presidente da República e do Flávio Bolsonaro continua operando. Fingiu-se de doente, mas está em busca de rachadinha. Esse áudio é um caminho a mais na divisão do partido. Tem os que defendem a impunidade do Flávio, que estão com o (ministro DiasToffolli), e o grupo do (deputado Luciano) Bivar, que quer toda a apuração. E essa é uma das raízes da separação”, criticou.