Título: Vaticano em clima de pessimismo
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/04/2005, Internacional, p. A8

Mesmo antes de a saúde de João Paulo II ter piorado, com a infecção urinária e febre alta, o clima no Vaticano já era de pessimismo. Muitos afirmam que o líder católico entrou em uma fase, talvez derradeira, de seu longo papado. O papa de 84 anos tenta se recuperar da cirurgia que instalou uma traqueostomia em sua garganta para ajudá-lo a respirar, há mais de um mês, mas seus assessores dizem que inclusive o pontífice estava frustrado com a lentidão da convalescença. Também com dificuldades para engolir, esta semana ele recebeu uma sonda de alimentação nasal.

¿ Se considerarmos a doença de Parkinson, a idade dele, as operações anteriores no estômago, as dificuldades respiratórias, os problemas digestivos, o panorama é bastante ruim ¿ disse um padre que trabalha em um importante departamento do Vaticano.

O cardeal austríaco Christoph Schoenborn foi ainda mais incisivo e declarou que o papa se aproxima ¿do fim da vida¿.

¿ O momento do alívio está chegando para ele ¿ afirmou.

A inserção do tubo gastro-nasal serviria para evitar a continuação do processo de perda de peso, por falta de calorias. Desde a realização da traqueostomia, o octagenário paciente já emagreceu 19 kg.

¿ É uma nova fase em seu papado ¿ disse um monsenhor do Vaticano, também em condição de anonimato. ¿ O papa terá de enfrentar o que aparenta ser um estado permanentemente precário de saúde.

O eclesiástico acrescentou que, até a tarde de ontem, João Paulo II estava sendo informado sobre as questões da Igreja e que era ¿capaz de se comunicar tanto pela escrita quanto pela fala¿. Mas não foi ao que o mundo assistiu, na quarta-feira. Pouco depois da inserção da sonda de alimentação, o pontífice fez uma tentativa dramática de falar em público, no segundo fracasso em quatro dias.

¿ Esta situação não pode se prolongar por muito tempo ¿ criticou em Roma o bispo de Breda, na Holanda, Tiny Muskens. ¿ Os efeitos da doença do papa na direção da Igreja são profundos, porque ela não reage a nada. Há um mês que não o encontrava em audiência. Isso significa que há um mês ele não sabe o que acontece na minha região. A comunicação entre Roma e o resto do mundo está paralisada.

Se conseguir se recuperar da infecção urinária, é bastante provável que João Paulo II seja substituído por um cardeal nas cerimônias de beatificação, programadas para 24 de abril.

Segundo o cardeal Mario Francesco Pompedda, perito em temas jurídicos da Santa Sé, o papa precisa apenas assinar a chamada bula apostólica que proclama os candidatos beatos. A dúvida agora é se o pontífice estaria lúcido para cumprir a burocracia.

Caso esteja vivo mas sem condições de comparecer à cerimônia, esta seria a primeira vez que um papa não regeria pessoalmente a beatificação.

Dois religiosos poloneses, um francês, uma espanhola, uma portuguesa e uma italiana devem ser beatificados no dia 24 de abril, assim como uma italiana laica.