O Estado de São Paulo, n. 46536, 16/03/2021. Política. p.A5

PSOL quer apuração sobre assessores de Bolsonaro na Câmara

 

 


Partido pretende instalar CPI e acionar a PGR e o Ministério Público do Rio para investigar suspeita de desvio de salários

 

O PSOL anunciou que vai iniciar a coleta de assinaturas para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara e pedir à Procuradoria-geral da República e ao Ministério Público do Rio que investiguem supostos indícios de envolvimento dos gabinetes do então deputado Jair Bolsonaro – hoje presidente da República – e do vereador Carlos Bolsonaro em esquema de apropriação de salários de assessores conhecido como "rachadinhas".

A suspeita é semelhante à que levou à denúncia criminal contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ, filho primogênito do presidente, por peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro envolvendo a prática de "rachadinhas" no gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, quando ele era deputado estadual.

Ontem, o portal UOL publicou uma série de reportagens com base nos dados da quebra dos sigilos de Flávio. Anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a medida mostra, por exemplo, que quatro ex-assessores de Bolsonaro na Câmara sacaram 72% de seus vencimentos. A prática é considerada um indício de desvio dos salários para devolução ao parlamentar que o contratou. Quatro investigados sacaram R$ 551 mil dos R$ 764 mil que receberam do gabinete de Bolsonaro no período abarcado pela quebra de sigilo, entre 2007 e 2018.

Outra reportagem mostra que quatro ex-assessores do vereador Carlos Bolsonaro também costumavam sacar dinheiro logo após receberem seus salários. Com saques que somam R$ 570 mil, esses servidores fizeram retiradas de 87% do total que receberam em vencimentos da Câmara Municipal. Jair Bolsonaro foi deputado federal de 1991 a 2018. Seu filho Carlos assumiu uma cadeira na Câmara Municipal do Rio pela primeira vez em 2001.

 

Frentes. Os pedidos do PSOL serão formulados pela líder da bancada na Câmara, Talíria Petrone, que trata da CPI, e pelo deputado Marcelo Freixo, que fará a manifestação à Procuradoria-geral da República e ao Ministério Público. Ambos os parlamentares são do Rio, berço político da família Bolsonaro.

Desde que Flávio teve os sigilos quebrados junto com seus ex-assessores, em 2019, investigadores avaliavam a possibilidade de a apuração alcançar outros integrantes da família. Para o MP, por haver funcionários em comum nos gabinetes do clã, a investigação poderia mostrar movimentações suspeitas relacionadas a Jair Bolsonaro e outros filhos do presidente eleitos para cargos públicos.

Procurados, Jair Bolsonaro e Carlos Bolsonaro não responderam aos questionamentos feitos pelo UOL.

 

Sob suspeita

72%

dos salários recebidos por quatro assessores do então deputado Jair Bolsonaro foram sacados, segundo reportagem do UOL.