O Estado de São Paulo, n. 46536, 16/03/2021. Política. p.A9

Mais 5 países europeus deixam de aplicar vacina de Oxford; OMS recomenda uso

Alemanha, França, Espanha, Portugal e Itália dizem que tomaram medida por precaução; Astrazeneca nega risco e fala em 22 eventos de embolia pulmonar e 15 de trombose venosa entre 17 milhões de vacinados, o que estaria dentro do esperado para a população em geral

 

Mais cinco países europeus suspenderam o uso da vacina de Oxford/astrazeneca. Alemanha, França, Espanha, Portugal e Itália dizem que tomaram a medida por precaução, após o registro de casos de trombose e mortes. A relação entre essas notificações e o uso do imunizante não está comprovada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso.

As doses da Astrazeneca representam em média 20% das que a União Europeia tem à disposição. Na Itália, 2,1 milhões foram aplicadas de um total de 8,5 milhões – 25%. Na Espanha, o governo estima essa porcentagem em 15%, mesmo número da Alemanha. Esse número estaria abaixo de 10% na França.

A Itália já havia suspendido o uso de um lote na semana passada, após a morte de um militar e de um policial no sul do país. Os casos estão sendo investigados. O Ministério da Saúde da Alemanha disse que a decisão teve por base um conselho do órgão regulador de vacinas do país, o Instituto Paul Ehrlich, que pediu investigação mais aprofundada. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que vai suspender o uso do imunizante enquanto aguarda avaliação da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), prevista para quinta. A Espanha informou que suspenderá o uso por ao menos duas semanas.

Portugal acompanhou os vizinhos. Segundo Graça Freitas, da Direção-geral de Saúde do país, embora os casos registrados tenham sido "severos", foram "extremamente raros" e ainda não há relatos no país. Áustria, Dinamarca, Islândia, Noruega, Bulgária, Tailândia e República Democrática do Congo já haviam interrompido temporariamente o uso da vacina. Ao todo, houve suspensão em 16 países.

O debate sobre eventuais reações à vacina de Oxford começou na semana passada. Inicialmente, a Dinamarca relatou um caso de coagulação sanguínea confirmado, e suspendeu por 14 dias a aplicação da vacina de Oxford.

A Áustria barrou o uso de um lote específico (de número ABV5300) do imunizante para investigar um óbito por problemas de coagulação e um caso de embolia pulmonar. Na Alemanha, há sete registros em análise, com três mortes.

No sábado, as autoridades sanitárias norueguesas reportaram a hospitalização de três profissionais de saúde com trombocitopenia (número anormalmente baixo de plaquetas no sangue), sangramento e coágulos sanguíneos. Apresentados como relativamente jovens, todos foram vacinados com uma dose de Oxford/astrazeneca. Uma mulher com menos de 50 anos, e de "boa saúde", morreu no domingo de hemorragia cerebral. "Não podemos descartar ou confirmar que isso tem relação com a vacina", disse Steinar Madsen, chefe da Agência de Medicamentos.

De acordo com a Astrazeneca, dentre 17 milhões devacinados na Europa, foram registrados somente 22 eventos de embolia pulmonar e 15 casos de trombose venosa profunda, índices que estariam dentro do esperado para a população em geral. "Os casos são em número muito menor do que seria esperado que ocorresse naturalmente e é semelhante ao observado com outras vacinas covid-19 aprovadas", disse.

A companhia ressaltou ainda que, durante os ensaios clínicos, "o número de eventos tromboembólicos foi menor no grupo vacinado, embora o número desses eventos fosse pequeno de forma geral". Também não houve evidência de aumento de sangramento em mais de 60 mil participantes de estudos.

Ann Taylor, diretora médica da Astrazeneca, afirmou que "a natureza da pandemia levou maior atenção aos casos individuais e estamos indo além das práticas normais para monitoramento de segurança de medicamentos aprovados ao relatar eventos vacinais, para garantir a segurança pública". A empresa ressaltou ainda não haver problemas relacionados com nenhum dos lotes da Europa ou de qualquer lugar do mundo. "Testes adicionais foram e estão sendo conduzidos pela Astrazeneca e pelas autoridades."

 

Brasil. O produto é usado no Brasil, com doses importadas, e também será fabricado no País pela Fiocruz – com a primeira remessa amanhã. A fundação prevê entregar ao Ministério da Saúde, ao longo do mês de março, 3,8 milhões de doses. A suspensão temporária em outros países não deve levar, por enquanto, a uma sobra de doses para outras nações. Isso porque a suspensão é temporária e os contratos continuam vigentes./ MARCO ANTÔNIO CARVALHO, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

 

Cautela

"A Espanha se juntou aos outros países que optaram por esta suspensão preventiva. Tomamos essa decisão por cautela."

Carolina Dias

MINISTRA DA SAÚDE ESPANHOLA